Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Jovem negro chicoteado

Caso de tortura no supermercado: uma prática que não vem de hoje

Não é um caso isolado

Nos anos 1970/80, uma revista chamada Superhiper, editada pela associação de supermercadistas, publicou uma matéria curiosa que tratava de roubos em supermercados. Pequenos roubos, evidentemente, porque naquele tempo, não havia produtos caros que pudessem ser levados impunemente por um incauto pobre. É um mundo desconhecido para leigos, mas do qual todos já ouviram falar. Os supermercados tratam esses pequenos furtos como “quebras”. Valores pequenos, como desodorante, sabonete, chocolate, às vezes cuecas, calcinhas. Coisas que cabem no bolso de quem aspira cometer delitos insignificantes. Nessa matéria, um dos casos relatados era o do olheiro que ficava muitas horas escondido, trancado dentro de uma muralha de produtos (como latas de óleo) com o objetivo de flagrar um furto. Aos chefes, comunicava uma suspeição através do rádio. Feita a constatação, a pessoa flagrada era abordada. Isso se dava sempre depois que houvesse passado pelo check-out (caixa) e consumado o pagamento de suas compras. Claro, se fosse abordado antes, o supermercado teria, digamos assim, um “prejuízo”. Então, o cidadão ou cidadã era conduzido a um quartinho, onde era revistado e obrigado a confessar o roubo. Acontecia, às vezes, da pessoa se arrepender do furto e devolver o objeto à gôndola antes que fosse descoberto. Mesmo assim, os seguranças obrigavam-no a pagar pelo produto que havia cobiçado.

Os quartinhos eram feitos para impressionar o pobre coitado que arriscou levar para casa algo que não lhe pertencia. Nesses quartinhos, e até mesmo em suas ante-salas, as paredes eram normalmente decoradas com instrumentos de tortura, como os cassetetes-tonfas, enormes. Obviamente, para amedrontar o “indivíduo”.

Muitos desses seguranças eram recrutados entre policiais e ex-policiais. Isso explica o porquê do método da tortura, utilizado em muitos supermercados de São Paulo.

No extinto supermercado Eldorado, dos Jardins, relata a matéria, o chefe da segurança era um ex-policial português que havia trabalhado para a PIDE, a polícia política do ditador sanguinário Salazar. O experiente senhor garantia que o seu serviço era tão eficiente e que a taxa de quebra daquela loja era zero ou próxima de zero. Mentira. Naquele mesmo dia, para efeito de demonstração, os repórteres que faziam a matéria furtaram várias mercadorias da loja, as quais foram devidamente devolvidas ao ex-PIDE. O objetivo da matéria era defender a tese de que o serviço de segurança era ineficaz, apesar dos métodos policialescos adotados. Não prevenia furtos, não identificava seus autores, apenas vigiava aqueles a quem eram atribuídas “atitudes suspeitas”. Claro. Pobres, negros, pessoas que não se enquadravam no perfil do morador dos Jardins.

Toda mercadoria vendida num supermercado tem embutida, uma taxa de roubo ou quebra. Só isso já serviria para que a prática odiosa dos serviços de segurança fosse abolida. Mas isso não acontece. Atravessa décadas. A responsabilidade da tortura não pode ser creditada apenas aos seguranças que fazem o serviço sujo.

Quem os contrata sabe de todos os detalhes da operação, inclusive os mais sórdidos. É o capitalista, esse tipo de alien sem alma que ama o dinheiro e suas benesses, mas que nunca conheceu a vontade de comer um chocolate sem ter dinheiro para isso.

Os supermercados, seus donos, seus gerentes não desconhecem a prática inaceitável, absurda da tortura. Uma prática que remonta o vergonhoso período escravocrata de nossa história, aperfeiçoada pela ditadura militar que vitimizou milhares de brasileiros.

Fica claro que o caso ocorrido em julho de 2019 no Supermercado Ricoy contra um jovem negro, morador da periferia, não é eventual, mas corriqueiro. Há um quartinho para essa finalidade, há seguranças prontos para exercer a brutalidade e há fios elétricos e tonfas à disposição deles. E há um patrãozinho correndo atrás de seus lucros.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.