A situação financeira do Botafogo é crítica. O clube da estrela solitária há mais de uma década encontra-se com uma dívida impagável, beirando um bilhão de reais.
Apesar do clube carioca estar conseguindo se manter, por enquanto, e estar pagando, em dia, os passivos trabalhistas e os valores do Profut (programa de amortização da dívida dos clubes com o governo), o Botafogo está à beira da falência.
Como alternativa à crise, os capitalistas pressionam os cartolas do clube à criação de uma Sociedade Anônima (S/A) que desvincularia o futebol do clube de sua parte social. Isto significa, na prática, tornar o futebol do Botafogo, a sua parte mais lucrativa, em uma empresa com donos.
O resultado da transformação do Botafogo em S/A, é tirar qualquer possibilidade de gestão do clube pela torcida. Os donos do clube serão os donos das ações. Inicialmente, o clube precisa levantar mais de 250 milhões de reais – valor que não parece estar nem um pouco próximo de ser conseguido – através de doações. Estes doadores receberão o valor, com juros, e serão os “donos” do Botafogo.
Enquanto isto, a parte mais pobre do clube, como clube social e os esportes amadores, ficará com o Botafogo “atual”, uma associação sem fins lucrativos. Fica claro e óbvio que a transformação do Botafogo em empresa não passa de uma tentativa de rapinagem das riquezas de um dos clubes mais tradicionais do país.
Dada a dificuldade em conseguir recursos, o presidente atual do clube, Nelson Mufarrej, apresentou a dois dos três candidatos à presidência do clube no próximo pleito a alternativa de recuperação judicial. Todavia, a recuperação judicial pode significar o rebaixamento do clube, pois caso o pedido não seja aceito pelos credores – o que é provável – o clube deverá vender todos os seus bens e será rebaixado para a última divisão (a quarta divisão do campeonato carioca). Isto significaria o fim do Botafogo, em uma situação tão ruim ou pior que a Portuguesa e o Cruzeiro (que está na zona de rebaixamento para série C do nacional).
O que tem-se aí é o resultado do apodrecimento, por décadas, do regime de gestão dos clubes. Controlados por cartolas, muitas vezes de índole duvidosa, os clubes mergulham em dívidas impagáveis. Como solução, estes mesmos cartolas, que fazem de tudo para impedir a participação dos torcedores na gestão, chantageiam os clubes a se tornarem empresas, tudo para que possam vender as partes mais lucrativas (a operação do futebol) a terceiros, muitas vezes sem ligação alguma com o clube.
Trata-se da mais alta traição aos torcedores. Deve ser combatida através da mobilização, em que os clubes sejam tomados pelos torcedores e se reverta a tendência do clube-empresa através de ampla participação da torcida. Caso contrário, situações como as vividas por Botafogo, Cruzeiro e Portuguesa tenderão a se repetir com muito maior frequência.