Os empresários, que formaram no ano passado o Movimento Convergência Brasil, estão fazendo pressão no Congresso Nacional para acelerar as reformas administrativa (que vai acabar com a estabilidade do servidor público e abrir lugar para contratação sem concurso público e vai reduzir salários) e as privatizações.
Esse grupo é coordenado por Elvaristo Amaral, que já foi presidente da Credicard e executivo do Citibank e Santander. Fazem parte a dona do Magazine Luiza, Luiza Heleno Trajano, que já foi até cotada pela direita do PT para ser vice na chapa de Fernando Haddad à presidência em 2022 (Revista PEGN, 5/3/21), e ex-presidentes de vários bancos.
Acreditam que conseguem apressar a privatização com uma ideia ao mesmo tempo demagógica e canalha, a de que 30% do valor das privatizações vá para um fundo de investimentos administrado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para servir como fonte de recursos para a implantação de um programa condicionado de transferência de renda para os mais pobres. E para completar a canalhice, dizem que também defendem que 30% da suposta economia que será criada com a redução de salários dos servidores públicos também iria para esse fundo. (O Globo, 23/3/21)
Com isso, querem conquistar a opinião pública desavisada. Uma espécie de golpe publicitário para contornar a discussão sobre a concentração de renda, para confundir a população sobre como os impostos são cobrados mais dos pobres que dos ricos e para evitar a taxação das grandes fortunas.
Segundo o governo, em dez anos a economia que a redução dos salários dos servidores públicos gerará será entre R$ 202,5 bilhões a R$ 318,5. (DN, 22/3/21) O que esses empresários esquecem de dizer é que a dívida que as empresas têm com a Previdência Social é de R$ 815 bilhões. Só o agronegócio deve R$ 335 bilhões à União. (De olho nos ruralistas, 23/6/19)
O argumento dos empresários não é só uma cortina de fumaça para esconder a sonegação de impostos e o desvio das contribuições previdenciárias. Querem dar aos parlamentares que estão pressionando argumentos para acelerarem a venda de empresas estatais estratégicas e necessárias ao desenvolvimento nacional.
Mesmo aquelas empresas que estão sendo sucateadas e destruídas para que seu preço final seja muito baixo, são todas empresas lucrativas e que promovem o fortalecimento da economia nacional via a compra local de equipamentos e produtos necessários às suas atividades e, assim, fomentam a criação de empresas nacionais fornecedoras e a criação de empregos.
No caso da Petrobras, a destruição da empresa tem provocado o colapso de toda a cadeia produtiva do petróleo e gás, incluindo a indústria naval. No período subsequente ao golpe de 2016 “cerca de 300 mil trabalhadores e trabalhadoras de estaleiros e de empresas de apoio à indústria naval perderam o emprego com a política de desinvestimento da Petrobras promovida pelo governo ilegítimo e golpista de Michel Temer (MDB-SP)” (CUT, 25/5/2018).
A redução nos investimentos estatais provoca a quebra de empresas em todo o país e desemprega centenas de milhares de trabalhadores. A venda da Embraer criou empregos nos EUA e fechou empresas do segmento aeroespacial no Brasil. O mesmo aconteceu com a privatização das subsidiárias da Petrobras no campo da distribuição e processamento do petróleo.
A privatização não traz benefício algum aos trabalhadores, ao contrário, só aumenta a miséria e empobrece no longo prazo o país.
O interessante desse movimento de empresários é que eles mesmos mostram que não há capitalista bonzinho ou “civilizado”. Querem o máximo de lucro no tempo mais rápido possível. A esquerda que cair no conto do empresário, estará contribuindo para o enfraquecimento da economia nacional, estará ajudando o crescimento do desemprego e da miséria.
Esse fundo de investimentos que eles dizem que querem criar para dar auxílio emergencial aos mais pobres, se for criado, vai acabar indo para o bolso desses empresários, assim como uma série de outros fundos que eles assaltam todos os dias.