Míseras 639 pessoas, os bilionários norte-americanos, tem lucrado muito na crise capitalista que vem devastando as economias nacionais em todo o planeta, impulsionada pela pandemia do coronavírus. Ao todo, os bilionários ganharam mais de US$565 bilhões em um intervalo de apenas 11 semanas, que sem nenhuma surpresa, coincide com o espalhafatoso anúncio do resgate trilionário ao capitalismo feito pelos governos dos EUA e da Europa (além de outros países, entre os quais, o Brasil).
O diminuto tamanho do conjunto é especialmente relevante para constatarmos a discrepância numérica entre estes e a força de trabalho americana, mais de 160 milhões de trabalhadores sob os quais o peso da crise tem recaído unilateralmente. Entre os milhares de contágios e mortes, os milhões desempregados e o expressivo empobrecimento, o país mais “dinâmico” do capitalismo tem demonstrado com muita eloquência que a crise, longe de atenuar o choque de classes em nome de uma idílica unidade nacional, tem feito o oposto, acentuando ainda mais a luta de vida ou morte pelo controle dos recursos.
A análise de classe dos problemas levantados pela situação econômica atual, ganha ainda mais concretude quando, além do óbvio monopólio burguês do aparato estatal (e consequentemente da riqueza), facilmente demonstrado na distribuição dos recursos utilizados para mitigar a crise ampla (econômica e também sanitária), vemos também o que é feito desses recursos.
Manter o pagamento dos salários, investir na capacidade produtiva, contratar trabalhadores, foram as desculpas esfarrapadas dadas pelo regime político dos EUA para dar dinheiro ao capitalistas. Contudo, depois de fechar o primeiro trimestre com o Produto Interno Bruto (PIB) registrando retração de 5% na atividade econômica, a expectativa para o 2º trimestre é expressivamente maior, a ponto de existir quase um consenso sobre retração da ordem de 42%. A aparente contradição entre o movimento geral da economia e o surto de crescimento das fortunas da grande burguesia americana é também um dado revelador sobre a profunda decomposição do capitalismo.
Seguindo o caminho inverso da devastação da economia, a bolsa de valores de Nova Iorque tem operado em um ritmo frenético de alta. Embora ainda não tenha retomado o volume de negócios de seu ápice, 29.551 pontos em 12 de fevereiro (tendo sofrido uma acentuada queda posteriormente), o índice Dow Jones já acusava, até o final da última sexta-feira, 05 de junho, 27.089 pontos à principal praça financeira do capitalismo. Com um crescimento vertiginoso desde 23 de março, quando os efeitos da crise derrubaram o índice a 18.592 pontos, a atividade puramente especulativa explodiu com praticamente a exata proporção da destruição econômica dos EUA: 45,7%, tendo a jogatina levado uma ligeira vantagem de 3,7 pontos percentuais.
A demagogia barata dos governos, que escancaram os cofres públicos (à burguesia apenas, claro) sob o pretexto de preservar a economia e os empregos, talvez nunca tenha ficado tão bem demonstrada e com tanta contundência. Longe de cumprir com as boas intenções, difundidas na propaganda da unidade nacional pelo bem comum, os grandes capitalistas americanos não tiveram nenhum pudor em despejar o dinheiro público no cassino da especulação financeira, o que foi feito inclusive com uma rapidez espantosa. Fica evidente que nenhuma consideração foi dada sequer às aparências, e isto, na mais importante nação capitalista do mundo, o pilar principal do imperialismo. Míseras 639 pessoas.