Uma crise se aprofunda a partir da pandemia do Covid-19. A direção do governo, que antes da pandemia já era de destruição, nesse momento se vê a salvo das crescentes manifestações populares nas ruas, as quais demandavam cada vez mais a derrubada de Bolsonaro e o regime golpista.
As organizações de esquerda se recolheram e apontaram a quarentena “cada um por si” como a solução para o problema. Frente essa inércia, aumenta-se então o caráter policialesco do regime e o ataque às condições de vida da população, que além de Bolsonaro, agora tem de enfrentar o Covid-19 em meio a pobreza.
A UBES, umas das organizações de massa que deveria lutar pelo interesse dos estudantes secundaristas, publicou em sua página do Facebook nada contra o regime ditatorial ou algo relativo à organização da luta do movimento estudantil contra ele, mas uma crítica justamente ao comportamento da população frente a crise. Sobre não estocar produtos em casa em função da pandemia:
“Vamos ter senso de coletividade: NÃO estoquem produtos. Seus vizinhos também precisam de produtos básicos, não é só você e sua família. Lembrando que não há crise de abastecimento para um surto desses, vamos ter calma. Domingo é dia de fazer compras na sua casa? Lembra disso!“
É extremamente contraditório que justamente uma organização de massas vá responsabilizar individualmente às pessoas e suas famílias sobre os problemas decorrentes da pandemia. Em um momento de completo desamparo, as pessoas naturalmente tomam medidas desesperadas sob o que está ao seu alcance. Responsabilizar estas pessoas por eventualmente causar falta de suprimentos é uma postura cínica.
A direção do governo Bolsonaro é justamente a de destruir o SUS e renegar a população a um genocídio pela falta de políticas sociais, amparando assim os grandes capitalistas. É criticar como irresponsável ou individualista do povo empobrecido e aterrorizado por uma polícia violenta quando o governo, que supostamente serviria para cuidar destas pessoas, faz justamente o oposto. Não fosse suficiente sustentar a campanha irreal do “fique em casa”, impraticável para as famílias dos estudantes pobres, oriundos da classe trabalhadora, a UBES se põe agora a desviar o foco do principal elemento de destruição do país, o regime de Bolsonaro e a criticar a postura de famílias desesperadas.