Segundo a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), entre janeiro e julho, a atividade industrial brasileira teve uma queda de 9,7%. O PIB da indústria ficou 15,4% abaixo de sua capacidade produtiva, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), esse resultado é o pior em uma série histórica iniciada em 1998. (Jornal GGN, Sputnik Brasil, 15/10/20).
Na última década se acelerou o processo de desindustrialização do país. Os setores extrativistas minerais e a agropecuária voltaram a ter dominância sobre a indústria.
Para os capitalistas e economistas burgueses, isso se deve à alta incidência de impostos e reformas que precisam ser feitas mas que foram adiadas. A mesma ladainha de sempre. Procuram responsabilizar áreas que têm pouca ou nenhuma incidência sobre o problema, como fez Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que afirma que a “indústria do país sofre em duas frentes: uma delas seria a falta de modernização e outra seriam empecilhos da própria economia brasileira que atrasam o desenvolvimento industrial… O setor produtivo, a indústria brasileira, por mais que ele se modernize, por mais que ela aumente sua competitividade, ela vai perder esse aumento de competitividade por razões sistêmicas da economia brasileira. Ela ganha de um lado, mas perde porque você tem uma estrutura tributária que gera impostos acumulativos, impostos em cascata, que sobreoneram a indústria”, explicou. (Sputnik, 15/10/20).
Por outro lado, pesquisadores encontram outros fatores que têm provocado a queda da indústria nas últimas décadas, como a combinação provocada pela forte entrada do capital financeiro internacional na economia brasileira, baixo investimento, sobrevalorização cambial (o câmbio favorece a importação e retira competitividade dos produtos exportados).
Durante os governos Lula e o primeiro governo Dilma o setor industrial foi fortemente apoiado pelo BNDES e outros fundos públicos, inclusive com forte desoneração fiscal, especialmente como meio de superação da crise econômica mundial de 2009. Mas para o ex-presidente, o problema estava no comportamento empresarial, que pegava o dinheiro barato oferecido pelo governo e aplicava no mercado financeiro, em derivativos (Folha de S.Paulo, 22/5/2009).
Além desse fator relativo à ganância de curto prazo, que no caso brasileiro, mostrou a total falta de regulação do mercado financeiro, o processo de internacionalização da indústria brasileira foi acompanhado por um processo de transferência do controle acionário dessas empresas do capital nacional para o capital internacional, forte ingresso de capital estrangeiro em vários setores econômicos nacionais (indústria, serviços, comércio, mineração, agricultura etc.). Do ponto de vista estratégico, o capital internacional, percebeu, no período entre 1990 e 2010, que o crescimento brasileiro iria provocar alterações nos termos de competição internacional e, com auxílio dos governos imperialistas, houve alterações no comportamento econômico e político do imperialismo, pressionando setores inteiros da economia nacional. Isso pode ser visto na política de preços do aço brasileiro nos EUA, que induziu, por exemplo, a Gerdau a se transferir para aquele país e passar a focar no mercado latino-americano, mas perdendo o controle acionário. No caso da mineração, nesse mesmo período observou-se forte entrada do capital sul-africano e europeu, passando a ter hegemonia sobre uma grande gama de empresas.
A desnacionalização da indústria brasileira é um fator pouco comentado pelos economistas e imprensa burgueses, assim como a privatização não é ligada a esse processo, apesar de seus efeitos serem imediatamente identificados, como vimos mais recentemente no caso da Embraer, comprada pela Boeing, imediatamente desmantelada no país e de 5a. ou 6a. empresa aeroespacial, passou a ocupar um dos últimos lugares no setor.
A reorientação da política econômica, retirando subsídios e fomentos via a desoneração fiscal, mais recentemente acabou aniquilando a indústria de semicondutores que estava crescendo no Rio Grande do Sul (Brasil de Fato, 27/7/20).
Nos países desenvolvidos, a desindustrialização, que se iniciou na década de 1970, esteve ligada a processos econômicos muito diversos daqueles que se manifestam na desindustrialização de países atrasados como o Brasil. Para os países desenvolvidos, a especialização em serviços (inclusive financeiros) e alta tecnologia faz com que indústrias sejam transferidas para países de mão de obra barata, sem que a economia como um todo perca em competitividade. No caso de países atrasados, a desindustrialização os remete a processo de regressão econômica, retorno à economias primário exportadoras e à perda de importância geopolítica.
Isto é o que está ocorrendo com o Brasil. O processo de desindustrialização é um movimento do imperialismo que retira capacidade econômica do país, destruindo setores inteiros que poderiam crescer inclusive no mercado internacional (grandes empreiteiras, Petrobras, Embraer, indústria eletrônica e de semicondutores, indústria aeroespacial, indústria militar, estaleiros etc.), e assumindo o controle acionário de um grande conjunto de empresas estatais (energia elétrica, usinas hidrelétricas, mineração, metalurgia, petróleo e gás etc.).
Nesse cenário, a pandemia do coronavírus é um elemento menor na explicação da crise industrial brasileira, que tem como causa a crise capitalista mundial e a política dos governos brasileiros, sobretudo após o golpe de Estado de 2016 e a fraude de 2018.