Uma música do cantor paraibano Chico César gerou polêmica entre os bolsonaristas e evangélicos. A música é “Bolsominions”, que o cantor postou no dia 18 de junho em sua conta no Instagram.
Por causa da música o cantor recebeu voto de repúdio da Câmara Municipal de João Pessoa. O requerimento partiu da vereadora Eliza Virgínia, do partido de direita Progressistas, uma notória apoiadora do presidente ilegítimo Bolsonaro e também evangélica.
A letra que irritou os direitistas é a seguinte:
Bolsominions:
bolsominions são demônios
que saíram do inferninho
direto pro culto pra brincar de amigo oculto com satã num condomínio
bolsominions são vergonhas
que pastavam distraídas
burrice imodesta
o horror à festa e à risada instruída
a bolsa de valores sem valores
os corpos malhados sem alma
o sangue de barata e a raiva
de toda humanidade que não quer ser salva
Segundo a vereadora bolsonarista a canção evoca a intolerância religiosa e incita o que ela chamou de “cristofobia”. O requerimento foi votado e teve aprovação unânime, com apenas uma abstenção, a da vereadora petista Sandra Marrocos.
Chico César, um cantor paraibano nascido em 1964, ano do golpe militar, ao longo de sua trajetória artística, sempre escreveu canções de cunho progressista e desde a posse de Bolsonaro vem divulgando várias canções com críticas a seu governo fascista. O artista foi presidente da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) e de janeiro de 2011 a dezembro de 2014 foi Secretário De Cultura do estado da Paraíba na gestão de Ricardo Coutinho (PSB).
Censura explícita
Por trás deste voto de repúdio direcionado a Chico César está um grave ataque de representantes da direita pelo instrumento da censura. É o método da extrema direita, agora representado pela força governamental, calar as vozes dissonantes por meios oficiais. É um sinal evidente do fim da liberdade de expressão que ganhou impulso desde a posse de Bolsonaro.
No carnaval de Pernambuco deste ano os integrantes da banda Janete Saiu Para Beber foi censurada e até ameaçada de prisão porque cantavam uma música de Chico Science chamada “Banditismo por Uma Questão de Classe”. Essa música contém um verso que diz: “em cada morro uma história diferente, que a polícia mata gente inocente”. Chico César postou uma nota de solidariedade à banda.
Outros casos recentes de censura
Em setembro de 2019 houve o episódio do prefeito Marcelo Crivella do Rio de Janeiro que pediu a apreensão de livros e a obrigação da comercialização de obras de conteúdo LGBT em embalagens lacradas na Bienal do Rio de Janeiro. Marcelo Crivella queria censurar a revista em quadrinhos “Vingadores – A Cruzada das Crianças” que tinha um episódio de beijo gay. A intenção do governador era cassar o alvará do evento.
Nessa mesma época ocorreu a retirada de 36 charges que faziam paródias da situação política atual que foram retiradas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Uma das imagens trazia Bolsonaro lambendo as botas de Donald Trump.
Outros episódios notórios de censura foram o cancelamento do espetáculo “Res Publica 2023” pela Funarte em São Paulo, o evento “Abrazo” cancelado pela Caixa Cultural de Recife e a Terceira Mostra do Filme Marginal, que foi vetado pelo Centro Cultural da Justiça Federal no Rio de Janeiro.
Todos estes episódios demonstram que os governos de direita não conseguem conviver com as vozes dissonantes. Mostra a farsa do chamado estado de direito em nosso país e como é vital para eles a completa destruição das vozes da esquerda. É um aprofundamento da ditadura que já está instalada no país, muito semelhante àquela instalada em 1964.
Um dos episódios mais recentes de censura ocorreu aqui mesmo no Diário Causa Operária. O ataque hacker fascista que o DCO sofreu visava a completa destruição de um dos veículos mais importantes da classe trabalhadora. Graças à ação dos militantes que cuidavam do site do DCO o ataque foi contido, mas ainda assim foram destruídos mais de 4000 artigos, além de afetar a funcionalidade do site.
A esquerda tem que se mobilizar o quanto antes e repudiar todas as manifestações da censura. Todas as vozes têm o direito de se expressar, sejam elas de direita ou de esquerda. Mesmo um fascista como Donald Trump, vítima recente da arbitrariedade do Twitter, tem todo o direito de se expressar. A censura à direita atinge inevitavelmente a esquerda também. Desse modo devemos repudiar o uso da censura em todos os casos. Pela total liberdade de expressão!