O ano que se finda foi marcado por episódios pitorescos no que tange ao comportamento e a atuação da esquerda nacional, e também aos aspectos mais diretamente ligados à luta de classes no país. A eclosão da pandemia do coronavírus em todo o país, com a disseminação do vírus por todo o território nacional causou um enorme alvoroço na sociedade, traumatizando todo o tecido social, em função da rápida evolução nos números que a pandemia passou a apresentar, marcadamente os infectados e mortos que, naquele momento, se avolumavam a cada dia.
Chamou a atenção durante todo o período mais agudo da epidemia a conduta dos partidos que se reivindicam como representantes da esquerda brasileira, muito particularmente no que diz respeito à política para enfrentar os desafios colocados por uma situação inusitada. Um fato que mereceu destaque foi a posição adotada pelas direções do movimento de luta dos trabalhadores, os sindicatos e as entidades de uma forma geral.
A maioria dos dirigentes se viu atônita diante das medidas que foram anunciadas pelos governadores que, demagogicamente, propunham o isolamento social, seguindo uma intensa campanha da imprensa venal golpista, que adotou o slogan “fica em casa”, medida adotada como um dos “recursos” para conter a expansão do vírus.
Nessa lógica (sem qualquer lógica), as principais direções do movimento operário sindical e popular do país levaram ao “pé da letra” a campanha da imprensa capitalista. A partir de então, os sindicatos foram fechados, as atividades de discussão dos problemas das diversas categorias passaram a ser realizadas através de reuniões virtuais, tudo em nome da “responsabilidade e dos protocolos sanitários”.
Enquanto isso, o governo direitista de Bolsonaro e os governadores aproveitaram para “passar a boiada”, se aproveitando da inércia e da paralisia para levar adiante uma política de ataques aos direitos e conquistas dos trabalhadores e da população pobre e explorada do país. Durante dez meses, portanto – de fevereiro a dezembro – os sindicatos permaneceram fechados, enquanto o Congresso Nacional, controlado pela direita bolsonarista, agiu para atacar o povo brasileiro, tirando proveito da situação ocasionada pela pandemia e, particularmente, da inércia da esquerda nacional, que permaneceu em casa, sem reagir aos ataques do governo, mantendo os sindicatos fechados.
O fato curioso dessa história, que trouxe enormes prejuízos para a classe trabalhadora brasileira é que chegado o mês de dezembro, muitas direções sindicais, como tradicionalmente ocorre, anunciaram o “recesso de fim de ano”; ou seja, o “merecido descanso” aos sindicalistas que nada fizeram durante o ano. Parece piada, mas é isso o que vem acontecendo. Quem nada fez, quem não se mexeu para organizar a reação dos trabalhadores aos ataques da burguesia pró-imperialista reivindicam férias. Um abuso contra a população, que “comeu o pão que o diabo amassou” durante a pandemia, atacada em seus direitos e desassistida pelo poder público, abandonada à própria sorte.
O cenário que se avizinha para o próximo período, onde a pandemia deverá manter-se em alta, não deve ser alterado, no que concerne ao estado de ânimo da esquerda nacional, que muito provavelmente deverá continuar confinada, agora alegando que estará à espera da vacina para poder sair às ruas. Um cinismo sem igual, pois muitos desses dirigentes que mantiveram as portas das entidades fechadas, foram vistos, muito entusiasmados, nas ruas, fazendo campanha eleitoral, pedindo votos no pleito municipal que se realizou em novembro.
Este é o balanço que precisa ser feito, realizado, em todos os sindicatos, na CUT e nas demais entidades. Que em 2021 o movimento de luta dos trabalhadores e das massas populares possa superar as limitações impostas pelas direções e avançar no sentido da sua organização independente para impor uma derrota aos golpistas.