Em reunião virtual do Conselho Superior do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), no dia 6 de maio, foi aprovada a realização de atividades não presenciais na instituição de ensino durante a pandemia do coronavírus.
Cada um dos campi deve decidir os meios adequados para que as aulas possam ser desenvolvidas, segundo aponta documento que validou o novo modelo.
Estudantes são contra a medida
Os estudantes em um perfil criado no Instagram, chamado Ifes Contra a Ead denunciam que as atividades à distância em cursos presenciais aumentam a desigualdade no ensino e promovem sua elitização.
Professores também relatam os problemas da diretriz
A professora Patrícia Soares de Andrade diz que a decisão exclui estudantes que não têm acesso à internet, ou quando tem, é em equipamentos inadequados, como celulares. Para ela, a realização das atividades não presenciais pode fazer até com que os estudantes tenham que quebrar o isolamento social, já que muitos terão que se deslocar para áreas com acesso à internet ou para locais onde possam utilizar equipamentos de maior qualidade.
É o mesmo caso dos trabalhadores técnico-administrativos, pois terão que ir até uma agência enviar o conteúdo das disciplinas via Correios, o que prejudica tanto os servidores como os alunos, pois o material pode chegar com atraso. A professora relata, ainda, que os docentes terão que adaptar para as atividades à distância o conteúdo das disciplinas, elaborado para aulas presenciais.
“O Ifes está realizando um curso de 60 horas para os professores fazerem a adaptação do conteúdo presencial para não presencial, mas o próprio instrutor falou que seriam necessários dois meses de curso”, ela diz.
Sindicato denuncia inviabilidade da medida
O diretor do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), Thalismar Matias Gonçalves, destacou que a alteração do cotidiano de alunos e docentes também inviabiliza a qualidade das aulas.
“Temos alunos e professores com filhos em casa, alunos que têm idoso em casa para cuidar, que não têm quarto com privacidade para estudar”, declara.
Entidade se manifestou em oposição
O Fórum de Gestão Pedagógica (FGP) denunciou, por meio de nota, o fato de que a construção do documento aprovado na reunião não contou com sua participação. O Fórum destacou ainda a falta de participação da comunidade acadêmica em todas as esferas, ou seja, pais ou responsáveis, discentes, técnico administrativos e docentes.
Por meio de um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o FGP apontou o cenário de exclusão digital no Espírito Santo que barra o acesso dos estudantes ao conteúdo das disciplinas. Segundo o IBGE, em 2015, no Estado, entre as pessoas com rendimento mensal domiciliar de até 10 salários mínimos 44,19% não tinham computador em casa.
De acordo com essa mesma pesquisa, entre os que têm computador em casa, ou seja, 55,81%, 13,36% não possuem acesso à internet. Para os integrantes do Fórum, essa realidade não pode ser desconsiderada pelo Ifes, pois em virtude da Lei de Cotas, de 2012, a instituição de ensino tem ampliado seus serviços para o público de baixa renda, “que apresenta necessidades pedagógicas e socioeconômicas específicas”.