Os desdobramentos relativos às candidaturas de Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos) deixam cada vez mais aparente o nível do conflito entre os diferentes setores da burguesia. Nesta segunda-feira, 21, em votação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio de Janeiro, foi decidido – pela maioria dos desembargadores – que Crivella fosse alijado das eleições.
A inelegibilidade do prefeito, por sua vez, resulta do fato de Crivella ter utilizado a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) para promover a campanha do filho, Marcelo Hodge Crivella. O fato se deu através de um evento realizado na companhia, onde o filho do prefeito foi apresentado como pré-candidato a deputado. Essa, no entanto, é uma das pontas do cabo de força. Na outra ponta, temos Eduardo Paes, velho conhecido da burguesia tradicional carioca, isto é, do “centrão”, que também corre o risco de não se eleger em hipótese nenhuma. Paes é acusado de ter recebido R$ 10,8 milhões de executivos da Odebrecht por meio de caixa dois de campanha em 2012.
O conflito está em curso, evidentemente. A ala da direita bolsonarista se coloca em choque com a ala da direita ligada ao centrão. Às vésperas das eleições, Eduardo Paes aposta nas denúncias contra Crivella para alavancar nas eleições, mas se torna réu por corrupção e lavagem de dinheiro. Por outro lado, Crivella busca tempo para se livrar do estorvo do judiciário. Com pedidos de vista, o julgamento foi interrompido, mas deve ser retomado na quarta-feira, 23.
Esse imbróglio não é mero acaso. Isso está inserido na briga entre Bolsonaro e a burguesia dita “democrática”. Crivella é o candidato de Bolsonaro no Rio de Janeiro, e Bolsonaro tenta reelegê-lo para ter um trunfo na manga para 2022 uma vez que o RJ, mesmo apenas o município, é a segunda maior máquina estatal e eleitoral do Brasil, atrás apenas de São Paulo. A outra ala da burguesia, no que lhe concerne, tenta impor Eduardo Paes no lugar de Crivella com apoio de uma parcela da esquerda (Marcelo Freixo), sendo ele o candidato da Rede Globo e da frente ampla. Nesse jogo com dados viciados, quem dá a cartada é a burguesia – seja a ala bolsonarista ou a ligada ao centrão.