O pleito municipal no Brasil é conhecidamente despolitizado. O debate em geral se restringe a propostas mirabolantes e sem sentido e a baixezas constrangedoras entre grupos e famílias que disputam o controle dos municípios, e nem mesmo nas grandes cidades e capitais o debate sobe muito de nível. A imprensa capitalista, golpista, estimula sempre tal baixeza, mas nessas eleições tem motivos especiais.
As eleições de 2020, que ocorrem em meio ao golpe de Estado, que não fogem à regra, carregam consigo, porém um diferencial, uma sombra: as eleições de 2022, ou seja, o problema do golpe de Estado e do governo golpista de Bolsonaro. A imprensa capitalista desde já denuncia o caráter nacionalizado que as eleições municipais podem ganhar, ao mesmo tempo trabalham freneticamente no sentido de acumular forças, utilizando-se da esquerda, para poder se “contrapor” ao bolsonarismo nas eleições de 2022, a política da frente ampla.
Um jornal conservador como o Estado de São Paulo, em editorial, “Bolsonaro no palanque”, critica o atual presidente por estar utilizando as eleições no sentido de fortalecer-se para 2022, sobretudo na cidade de São Paulo, a mais importante do ponto de vista econômico e eleitoral do País. Seria uma utilização ilegítima deste instrumento para fortalecimento de projetos pessoais pelo, digamos nós, fascista Bolsonaro.
Com seu cinismo característico, esse órgão da burguesia quer fazer-nos crer que as eleições municipais são somente para discutir questões técnicas das cidades, transporte público, saúde, educação etc, coisa que é feita de alguma maneira de quatro em quatro anos sem resultar em muita transformação na vida do povo. Segundo eles, a eleição deve ser puramente provinciana, ou seja, um debate que não estimule a polarização política, uma vez que a radicalização política é um fator impeditivo à política da frente ampla, uma vez que a população tende a se deslocar para os polos, no caso, a esquerda, representada pela candidatura do ex-presidente Lula e o Bolsonarismo.
O alvo da crítica não é somente o nomeado Bolsonaro, como também o ex-presidente Lula, que não é nomeado, ou seja, os dois principais candidatos que polarizam a situação política. Há desde já uma articulação em torno da candidatura do ex-presidente Lula, política aliás defendida pelo PCO. Tornar as eleições, ao contrário da baixeza que costuma ser, em um embate entre o povo e o golpe, entre a frente única da esquerda agrupada em torno da candidatura do ex-presidente Lula e o bolsonarismo é tudo o que a burguesia tradicional, a frente ampla, não quer e é justamente o que devemos realizar.