Os debates eleitorais mostraram um show de horrores. Se assemelham, pela impressão que causam, à votação do impeachment na Câmara e no Senado.
Da direita à esquerda, os que estão disputando a presidência fazem-no à margem da política e do próprio eleitorado. Fornecem um espetáculo grotesco de propostas impossíveis, demagogia e declarações absurdas.
A questão central da situação política é evitada por todos. O principal adversário, Lula, que pontua 45% das intenções de voto nas pesquisas, não é mencionado. O problema político central de todo o último período, desde a última eleição, é o golpe de Estado, o impeachment e a prisão de Lula. Nenhuma palavra sobre isso.
A luta entre o imperialismo e o nacionalismo burguês, a luta entre a burguesia, os banqueiros internacionais e a maioria da nação, a classe trabalhadora e os demais explorados, está oculta detrás da luta pelo cargo, apesar de que os que competem pela faixa presidencial estejam longe de alcançar o primeiro colocado.
Não atacam Lula porque estão esperando a intervenção de uma força superior, a força do golpe de Estado que teve no poder Judiciário a sua principal arma, e que está levando adiante uma operação para canalizar a vontade da maioria da população para candidatos que ela rejeita.
O prazo para impugnar a candidatura do ex-presidente está se aproximando. Com ele, Lula e o PT serão forçados a tomar uma decisão: substituir Lula por Haddad e Manuela D’Ávila ou levar sua candidatura até o fim. Seus adversários e, particularmente, um suposto aliado, contam com o primeiro desfecho para avançar.
A operação montada pela direita visa dividir o voto de Lula no primeiro turno entre Bolsonaro, Alckmin, Marina e Ciro. Abrirá o caminho para a vitória do candidato “seguro” da burguesia, o tucano, em uma possível disputa com o segundo colocado no segundo turno.
A fraude eleitoral deixará, no entanto, algumas migalhas para Boulos e ele age como se fosse o principal herdeiro dos votos de Lula. Não está fazendo muito para se colocar à altura do espólio que pretende receber. Sua intervenção não se dirige à luta contra o golpe, ao atendimento da vontade do povo que enxerga na candidatura do ex-presidente a única alternativa real ao golpe de Estado.
Dar “boa noite ao ex-presidente Lula” é apenas firula. Sem enfrentar o golpe, não há propostas e programa possíveis para remendar o Brasil quebrado pela conspiração internacional do imperialismo com o que há de mais reacionário na burguesia brasileira. Brincar de candidato nestas eleições é fazer o jogo dos golpistas que precisam, mais do que nunca, de toda a cobertura que a esquerda pequeno-burguesa possa lhes emprestar para que tenham sucesso nos seus planos de “legalizar” e aprofundar o golpe.
Co-participante na fraude, o candidato-abutre menor deve ser denunciado e combatido como tal. Está vendendo a ilusão que servirá sob medida para a direita avançar.
O único caminho para derrotar o golpe é a mobilização popular, massiva, nas ruas. É dessa maneira que a impugnação de Lula deve ser enfrentada no TSE. A tarefa dos comitês de luta contra o golpe é mobilizar para realizar um grande ato em Brasília. A tarefa de todos os que lutam contra o golpe é denunciar e combater a fraude eleitoral. A palavra de ordem “Lula ou nada” é a resposta para a situação em que estamos colocados: eleição sem Lula é fraude.