Como se sabe, quando o Judiciário e a polícia chegam a algum político da burguesia, trata-se de disputa interna. Não é diferente no caso da Operação Piloto, deflagrada na última terça (11), encarcerando o governador do Paraná, o espancador de professores Beto Richa (PSDB). Um dos alvos da operação é também o bilionário Joel Malucelli – suplente de Álvaro Dias (Podemos) no Senado.
Cabe denunciar, antes de mais nada, o absurdo da prisão preventiva de um ex-governador eleito pelo povo e candidato ao senado, em plena campanha eleitoral. Tal possibilidade se tornou possível em junho, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) com o aprofundamento do golpe de Estado em curso. O país se aprofunda na ditadura do Judiciário, que outorga poderes ilimitados a si mesmo, aumenta seus privilégios e salários, prende arbitrariamente os políticos eleitos no que resta de processo democrático no Brasil.
A prisão de Beto Richa segue o script usual das ditaduras da burguesia. Atingem primeiro um alvo “de consenso” para em seguida concentram a perseguição nas lideranças populares. Não é improvável que algum governador de esquerda – candidato à reeleição – venha a ser encarcerado nas próximas semanas.
No caso da Operação Piloto – uma fase da Lava-jato –, também foi expedido mandado de prisão para 14 pessoas ligadas ao governador, incluindo sua esposa, Fernanda Richa, e para o megaempresário Joel Malucelli, que é suplente do senador golpista Álvaro Dias. A acusação é de desvios no programa Patrulha no Campo, em que o governo estadual loca máquinas para a conservação de estradas rurais.
Evidentemente há diversos choques internos de interesses entre setores da burguesia que motivaram a ação. Não se trata aqui de uma operação isenta. Trata-se de uma briga de compadres. Dentre os efeitos imediatos identificáveis, está o inevitável reflexo na corrida presidencial.
Como Roberto Requião (MDB) provavelmente vencerá as eleições para a primeira vaga ao senado, a ala paulista do PSDB aparentemente decidiu rifá-lo, atingindo também candidatura à presidência de Álvaro Dias, cujo eixo de campanha é a chamada “luta contra a corrupção”. Derrubando Dias, seus votos tendem a se transferir para a candidatura de Geraldo Alckmin – candidato à presidência pelo próprio PSDB de Richa.
É claro que, a médio e longo prazo, nenhum desses envolvidos será condenado. Malucelli, por exemplo, está foragido na Itália e tem no seu séquito figuras como Sérgio Moro – o Mazaroppi da Odebrecht: uma das pontas-de-lança da Lava-jato. Provavelmente, Álvaro Dias – que não tem qualquer chance para a Presidência – será convidado para algum ministério no próximo governo golpista, e o bilionário assumirá confortavelmente um assento no Senado Federal.