Nessa terça-feira (15), o Parlamento britânico votou e rejeitou a moção de apoio ao acordo de saída da União Européia. O acordo havia sido negociado entre a primeira-ministra Theresa May e a União Europeia. A votação expôs o já combalido governo de May e revela uma profunda crise no regime político da Inglaterra e também do conjunto da Grã-Bretanha.
Após a rejeição ao acordo, May ainda precisou enfrentar o chamado voto de desconfiança, uma alternativa no regime parlamentarista que pode manter o governo ou convocar novas eleições. O voto de desconfiança foi proposto pelo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, logo após a derrota do acordo. Na quarta-feira (16), o Parlamento decidiu, em votação apertada, que manteria May à frente do governo. Não obstante, essa pequena vitória é mais uma demonstração da falta de opções do regime britânico do que algo que mereça comemoração.
Em dezembro do ano passado o governo já havia passado por teste semelhante, na ocasião em votação convocada por um membro do seu próprio partido, o Conservador. Na votação atual, o que manteve os conservadores na operação de salvar o frágil governo foi o medo de levar o Partido Trabalhista e Jeremy Corbyn ao poder. Mesmo assim, por uma pequena maioria a primeira-ministra foi mantida.
Além disso, em virtude da derrota do acordo do Brexit, a primeira-ministra precisa oferecer um plano B em um prazo de três dias. Originalmente, esse prazo seria de 21 dias, porém foi alterado por decisão dos parlamentares. E isso coloca um novo impasse. As opções parecem ser seguir sem acordo, o que incomoda as provisões de futuro dos capitalistas, ludibriar a decisão do referendo de saída, organizando um Brexit de mentirinha ou, ainda, organizar novo referendo. A questão para os Conservadores é escolher a opção que dê condições de não provocar uma maior desagregação e crise no regime.
Segundo May, a União Europeia estabeleceu que o Brexit deve acontecer até o dia 29 de março. Somado a isso, a primeira-ministra tem dado algumas declarações onde se coloca terminantemente contrária a um novo referendo. Portanto, espera-se que novo acordo, um plano B, seja apresentado na segunda feira (21).
De qualquer maneira, a saída do Reino Unido do mercado comum europeu vem dando o tom da crise do todo o regime. May esteve o tempo todo com a ponta de um enorme iceberg nas mãos e até agora não navega e nem afunda. Parece evidente que as chances de May aprovar o Brexit foram muito pequenas. Entretanto, a fragilidade do regime e da direita coloca em suspeição a manobra de formação de um novo governo. Não há dúvidas de que vários capítulos virão na sequência dessa crise.