A novela do Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia UE), está terminando. Depois de muitas idas e vindas, com tentativas da burguesia de anular o resultado do referendo de 2016, em que os eleitores rejeitaram a continuidade do Reino Unido na UE, um acordo para o Brexit foi aprovado no dia 9. Agora o projeto precisa passar pela Câmara dos Lordes e ser sancionado pela Rainha, passos meramente formais antes que o acordo seja efetivado no dia 31 de janeiro e o Reino Unido então deixe a UE. Um período de transição deverá se estender até o dia 31 de dezembro.
Dessa vez, o Brexit foi aprovado com facilidade, depois de anos de impasse. Esse resultado veio depois da vitória esmagadora dos conservadores nas eleições legislativas antecipadas do dia 12 de dezembro. O primeiro-ministro Boris Johnson aproveitou-se das vacilações do Partido Trabalhista liderado por Jeremy Corbyn e apresentou-se como candidato do Brexit nas eleições. Os trabalhistas adotaram uma posição ambígua, recusando de seu posicionamento original, ao aproximaram-se de setores da burguesia e estabeleceram compromissos que permitiram à extrema-direita levar amplas doses de demagogia ao processo eleitoral.
O Brexit foi proposto em 2016 em um referendo realizado pelo então primeiro-ministro David Cameron. Representante da direita tradicional, Cameron acabou derrotado ao se colocar contra o Brexit. A intenção do governo era se fortalecer com a vitória, mas o desfecho acabou encerrando a carreira política de Cameron, marcando a crise do regime político e de seus partidos tradicionais.
Desde então, passando pelo governo de Theresa May, em permanente crise pelos impasses do Brexit, o Partido Conservador acabou se deslocando completamente a extrema-direita. Por ocasião do referendo, Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, defendeu o Brexit de dentro do Partido Conservador. Poucos anos depois, Johnson aparece liderando o partido, marcando um deslocamento a direita de todo o regime.
A ascensão da extrema-direita combinada com a crise dos partidos tradicionais do regime é um fenômeno que vem se repetindo por toda a Europa. Os grandes partidos de esquerda tradicionais dentro desses regimes estão atrelados ao regime político da burguesia e às políticas neoliberais, permitindo que a extrema-direita apresente-se como verdadeira oposição ao neoliberalismo e aos bancos que controlam a UE. As concessões desses partidos a políticas direitistas fortalecem a própria direita e estimulam o deslocamento do regime político nessa direção. Seria preciso radicalizar à esquerda para combater a extrema-direita efetivamente.