Nas últimas semanas os brasileiros tem sido assombrados por uma nova doença, um novo vírus, que representa grande ameaça ao povo como um todo, mas principalmente aos setores mais pobres da população: o coronavírus. Os números, apesar de já serem alarmantes, não apresentam a realidade e, ao que tudo indica, vem ocorrendo uma monstruosa subnotificação do COVID- 19, visto que não há testes para verificar quem está com o vírus e muitos estão morrendo sem que os familiares que ficam saibam do que.
As epidemias, no entanto, não são novidade no Brasil. Somos um país infestado por epidemias, por toda sorte de enfermidades, como as transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti, um bom exemplo disso. O ano de 2020 ainda não chegou na metade, estamos em abril e já foram registrados mais de 525 mil casos prováveis de dengue e 181 mortes, como consequência da doença, segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde no último dia 4. Já no caso da chikungunya, são 15.051 casos e três mortes. Quanto à zika, são 2.054 casos. A falta de qualquer precisão na estimativa indica também, no que se refere a essas doenças, a distância entre a realidade e o que é notificado, de um verdadeiro abismo.
Os dados apresentados, segundo o próprio boletim, ainda estão em processo de atualização, um sinal de que os números a serem apresentados tendem a ser ainda piores, porém, melhores do que a realidade, se fosse retratada em sua versão nua e crua.
O secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Wanderson de Oliveira, afirmou no dia 26 de março, ao conceder entrevista coletiva: “Ainda estamos entrando na sazonalidade de vírus respiratórios, como influenza A, influenza B [causadores da gripe]. Agora teremos que monitorar influenza A, influenza B, além dos outros vírus respiratórios, simultaneamente à circulação do coronavírus. Então o desafio vai ser trabalhar pelo menos três epidemias simultâneas: temos coronavírus, que é uma novidade; teremos, influenza, que é uma rotina, todo ano acontece; e teremos também o pico de dengue”.
Entretanto, o tal “desafio” ao qual o representante do governo se refere, de “trabalhar pelo menos três epidemias” é algo muito sério. Estamos falando das nossas vidas, que, em pleno século XXI, corremos o risco de perder de uma forma patética, não por uma falta qualquer, mas pela ausência completa de uma política séria de saúde pública. O Sistema Único de Saúde (SUS), conquista obtida pela luta popular, vem sendo sistematicamente atacado de todas as formas, destruído, principalmente desde o golpe de Estado de 2016, que derrubou a presidenta Dilma Rousseff (PT) por meio de um processo de impeachment completamente fraudulento. Ataques esses que se intensificaram no governo de Bolsonaro, com o ministério chefiado por Mandetta, político que foi favorável a emenda do teto de gastos, que impõe um limite para os já tão parcos recursos destinados à saúde. O mesmo Mandetta que, no momento, está sendo endeusado, pela esquerda pequeno-burguesa, que o elogia por sua política diante do COVID-19. Tais elogios são ridículos pelo passado e pelo presente: pelo passado porque desde há muito é um político de direita e golpista, e pelo presente, porque nada de concreto está sendo feito para resolver os problemas de saúde do povo – nem o que é “novidade” e nem o que é “de rotina” -, visto que não há qualquer preocupação em providenciar leitos, respiradores, testes, ou seja, o mínimo para oferecer ao tão sofrido brasileiro ao menos uma morte digna.