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Veja avisa

Boulos vai à rua… para frear a mobilização de novo

Psolista, que tem coluna cativa na Folha de S.Paulo, agora foi chamado às páginas amarelas da revista oficial do golpe para anunciar sua ida às manifestações

Qualquer jogador que receba a notícia de que Pelé, Garrincha, Neymar e Ronaldinho Gaúcho irá jogar em seu time se sentiria motivado para jogar qualquer partida. Com um quarteto desses no ataque, qualquer time é imbatível. Mas imagine, caro leitor, se, neste time, em vez de Pelé, Garrincha, Neymar e Ronaldinho Gaúcho, fosse escalado no ataque de seu time a zaga da seleção de futebol do Líbano… Pois é essa a sensação que qualquer um teria quando lesse a entrevista de Guilherme Boulos às páginas amarelas da revista Veja.

Todo mundo conhece a revista Veja. É aquela que publicou, no dia da eleição presidencial de 2014, a escandalosa capa dizendo que os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff “sabiam de tudo”. Uma mentira mais danosa e mais asquerosa que qualquer uma das “fake news” já produzidas por Bolsonaro, mas que ficou encoberta pela suposta “respeitabilidade” da revista. Segundo a própria Veja, Lula já apareceu em mais de 60 capas da revista, quase todas elas com alguma acusação de “bandido”, “corrupto” ou “presidiário”. A Veja, finalmente, é ou serviu de abrigo e escola para os mais notáveis fascistas do jornalismo brasileiro, como Augusto Nunes, Joice Hasselmann, Guilherme Fiuza e Rodrigo Constantino.

Pois agora, essa mesma revista Veja decidiu trazer para suas páginas amarelas, para a entrevista mais importante de sua edição, uma figura da esquerda. Por que seria?

Essa não é, nem de longe, a primeira vez em que algum dirigente da esquerda nacional aparece nas páginas amarelas. Todas as vezes em que isso acontecia, no entanto, servia aos propósitos da burguesia. O senador Humberto Costa (PT-PE), por exemplo, foi às páginas amarelas logo após o golpe de 2016 para dizer que seria preciso “virar a página do golpe”. Obviamente, a menos que o leitor esteja disposto a acreditar que a Veja mudou e agora é um periódico democrático, o convite feito a Boulos serve também a interesses muito escusos.

Boulos foi à Veja para anunciar uma mudança de posição na sua política. Antes, o psolista dizia que depois da pandemia sairia às ruas. Rapidamente, contudo, Guilherme Boulos deu uma guinada de 180º e, no momento em que a pandemia continua matando milhares de pessoas por dia, decide ir às ruas. O motivo é óbvio. Após os atos de 31 de março e de primeiro de maio, Boulos, como parte da ala mais conservadora do movimento, se deu conta de que ninguém estava disposto a cumprir o prazo que ele propôs. A decisão foi tomada em plenária das frentes e centrais, vários setores, como o PSOL e o PCdoB, concordaram em mobilizar declaradamente à contra-gosto.

Sair de casa e protestar é uma necessidade, e Boulos só não havia se dado conta disso porque, ao contrário da esmagadora maioria da população, está em casa fazendo isolamento social.

Boulos acompanha, portanto, todo um setor que só decidiu apoiar a política de sair às ruas contra a pandemia porque as suas bases lhe obrigaram. Ou Boulos, Juliano Medeiros e outros tantos burocratas mudavam a sua política, ou corriam um sério risco — e ainda correm — de rompimento com suas bases.

De um modo geral, a mudança de política é um sintoma positivo para os trabalhadores e para a esquerda de conjunto. Significa, afinal, que deverão encontrar menor resistência para levar adiante a política da mobilização. Significa que a política do “fique em casa” se desmoralizou completamente e que será ainda mais difícil controlar aqueles que já não levam mais a sério as bravatas dos deputados e querem um auxílio emergencial real, vacina, emprego, saúde e tudo o que têm direito. No entanto, a vinda de Guilherme Boulos para as ruas deve acender um alerta.

Isso porque é a segunda vez, desde o início da pandemia, que Boulos aparece na imprensa burguesa ameaçando o povo de ir às ruas. A primeira foi na Folha de S.Paulo, quando havia um clima muito forte para a mobilização. Em dois meses de pandemia, várias categorias já haviam se revoltado, como enfermeiros e ambulantes, e o PCO e os comitês de luta estavam em plena atividade formando conselhos populares e denunciando o descaso das autoridades. Tudo isso culminou em um grande enfrentamento entre os trabalhadores, a maioria deles sendo membros de torcidas organizadas, e a extrema-direita bolsonarista, que acabou sendo varrida da Avenida Paulista.

Boulos, ao contrário de um verdadeiro líder de massas, não preparou esse movimento. Não incentivou ninguém ir às ruas. Ao ver o povo na rua e ao ver que sua política era reacionária e impopular, Boulos decidiu ir aos atos para “ensinar” o povo a se manifestar. E o que fez? Acabou com os atos, fazendo todo tipo de coisa absurda e criminosa. Boulos e seus apoiadores tentaram proibir a participação de partidos nos atos, organizou uma campanha, apoiada pela Folha de S.Paulo, para que os atos tivessem as cores do PSDB — amarelo e azul — e, naquilo que talvez tenha sido seu maior crime, que repercute até hoje, fez um acordo com a Polícia Militar e com João Doria para permitir que a extrema-direita pudesse se manifestar nos fins de semana. Essa negociação, inclusive, que Boulos fez em nome de toda a esquerda, sem nunca ter tido legitimidade para tal, foi o que permitiu que, em 2021, a direita pudesse se manifestar na Avenida Paulista.

Não tivesse bastado ter injetado o verde e amarelo nas ruas, ter dividido a Avenida Paulista com a direita e incentivado um movimento confuso chamado “Somos Democracia”, o que enfraqueceu muito os atos, Boulos literalmente acabou abandonando os atos pelo Fora Bolsonaro quando sentiu que tinha condições para isso. Por um período, deixou Danilo Pássaro, seu pupilo, no comando dos atos cada vez mais eleitorais, que contou, um certo dia, até mesmo com um ato ecumênico, e o próprio Danilo Pássaro liquidou de vez os atos. Com esse histórico tenebroso, não há nada de bom a se esperar com a “nova” vinda de Boulos para as ruas.

Boulos, muito ao contrário do que a Globo e a Veja pintam, não é a ala hiper-radical da esquerda. Não está sequer à esquerda do PT. O PT e a CUT decidiram convocar o dia 29 porque se sentiram pressionados por suas bases. O PSOL estava contra o dia 29 e só mudou de posição porque percebeu que não poderia ficar em casa com o PT na rua. Ao contrário de um líder de massas, como Lula, que é pressionado por um movimento real, que tem um programa, Boulos é um cavalo de Troia, cultivado pela burguesia, para cumprir exatamente aquilo que a burguesia quer: que a mobilização se disperse.

Boulos é, neste sentido, uma face esquerdista da política da direita nacional. É a ala direita da esquerda. Assim como Mário Sérgio Conti é utilizado pele Globo para atacar o PT “pela esquerda”, convidando esquerdistas golpistas, como o PSTU, para atacar o PT, Boulos serve para que a direita transforme os atos naquilo que não são: uma farsa eleitoral e direitista, que não vai a lugar algum. Boulos aparece na Veja, neste sentido, como uma operação do PSDB e da direita para parecer que foi ele quem convocou os atos, sendo que foi a CUT, o PT, o conjunto da esquerda que convocaram. Uma manobra igual no caso das torcidas, de apresentar uma pessoa que até o dia anterior era contra os atos de rua como o grande líder do movimento. Uma forma, portanto, de legitimá-lo quando ele tentar enterrar a mobilização.

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