Nas vésperas da eleição, a maioria dos candidatos intensificaram freneticamente a campanha pela conquista de um cargo público, custe o que custar, haja a demagogia e a pandemia que houver. Lançam-se num vale-tudo para a conquista de um cargo público imediato ou futuro. É o caso do candidato Guilherme Boulos, do PSOL, que fez e faz uma campanha eleitoreira, com propostas irreais e sem o mínimo caráter de classe na defesa dos trabalhadores.
Vira SP: uma campanha eleitoreira
Sob o lema de “Vira São Paulo”, Boulos atuou na campanha como se as eleições fossem democráticas e houvesse chances reais de sua vitória. Impulsionado pelas pesquisas dos institutos da burguesia, como o DataFolha, Boulos concentrou sua campanha em propagar que era possível virar as eleições em SP contra os candidatos Bruno Covas (PSDB) e a Celso Russomano (Republicanos).
A mensagem central da campanha foi a de que tudo pode ser resolvido através das eleições. Como se o processo eleitoral suspendesse parcialmente ou completamente a luta de classes, o golpe de Estado de 2016 e a fraude eleitoral de 2018, ambos organizados pela classe dominante. Ou seja, uma campanha que ao invés de chamar os trabalhadores a lutarem contra o regime, chama os trabalhadores a buscarem mudanças por dentro do regime golpista, legitimando-o, ainda por cima, como democrático!
O oportunismo da frente ampla e às concessões à direita golpista
Se a campanha de Boulos (PSOL) fosse apenas focada em interesses eleitorais já seria descartável de um ponto de vista marxista, revolucionário. No entanto, não é apenas uma campanha eleitoral, mas sim uma campanha em prol da frente ampla, ou seja, da aliança com setores da direita golpista, sob o pretexto de combater Bolsonaro. Desta forma, é uma campanha recheada de concessões aos golpistas.
Prova disso é a relação que Boulos tem com a PM e a GCM, setores fundamentais do aparato de repressão do Estado burguês. Antes das eleições, Boulos articulou o acordo, formalmente assinado por dirigentes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), do qual é coordenador, para “revezar” a Av. Paulista com a extrema direita bolsonarista. Isto precisamente no momento em que as torcidas organizadas, em consonância com o chamado do PCO, expulsaram a extrema direita das ruas, especialmente em São Paulo, na Paulista.
Mas não foi só isso. O acordo foi completamente ilegítimo, uma vez que o movimento de Boulos negociou com a Polícia, do próprio governador “BolsoDoria” (PSDB), como se fosse porta-voz de toda a esquerda. Isto para em seguida desmontar a mobilização radical dos torcedores e tirar as manifestações da Av. Paulista, deixando para a extrema direita. Ou seja, na verdade não era apenas um acordo, era uma manobra para submeter o movimento à direita.
Já no período eleitoral, Boulos foi além e disse que irá “humanizar” a GCM, fazendo dela “um instrumento de segurança cidadã, mais participativa e integrada ao dia a dia das pessoas em seus bairros”. Ele também disse que os profissionais da violência “atuais e novos, que serão contratados – receberão capacitação para inibir a violência contra mulher, combater o racismo e a lgbtfobia”.
Tais posições de Boulos mostram sua estreita ligação com o aparato de repressão do Estado burguês, um dos maiores inimigos dos trabalhadores e do povo em geral. Não é um acaso, mas sim uma política para domesticar os trabalhadores. Fazê-los aceitar um convívio harmônico com seus próprios inimigos, a máquina de extermínio do povo, que é a Polícia.
Programa de conciliação, eleição sem luta de classes
Por fim, diferente do que propagam setores da burguesia e da esquerda, de que Boulos seria o candidato da esquerda, ele é um candidato bastante direitista, conforme suas próprias posições comprovam.
Isto porque o método do candidato do PSOL é o da conciliação com a burguesia. O que ficou exposto na visita que Boulos fez a empresários, ao dizer que “não iria demonizá-los”. Como demonizar o apoio que Boulos tem recebido da imprensa burguesa e de seus institutos de pesquisa, como o Data Folha, que o colocou no segundo turno, não é mesmo?
Essas relações tão próximas com a burguesia explica porque a campanha de Boulos não tem qualquer denúncia do golpe de Estado de 2016, nem da fraude eleitoral que está se realizando 2020 para eleger a direita golpista.
Não se viu na campanha de Boulos mesmo a defesa dos sem teto, das suas lutas, das ocupações, dos quais a imprensa capitalista faz questão de enfatizar que o candidato seria o líder.
A candidatura de Boulos é inócua, sem qualquer conteúdo para a luta contra o golpe de Estado e pelas reivindicações populares. Serve apenas para facilitar a sua utilização pela frente ampla e pela burguesia, que a impulsionou com tanto entusiasmo.