O ex-candidato à presidência pelo Psol, Guilherme Boulos, publicou matéria no jornal golpista, Folha de S. Paulo, para discorrer um pouco sobre o que ele pensa ser a “Renovação da esquerda”.
Para ele, “a esquerda não pode guiar-se por um ufanismo acrítico”. Boulos gosta de expressões vazias que em geral servem para esconder uma determinada posição política. O que seria então o “ufanismo acrítico”? Essa pode ser a maneira de Boulos de levantar a tão falada autocrítica que setores da direita exigem que a esquerda, especificamente do PT, façam. Uma pista pode estar na seguinte frase do texto: “os erros foram muitos, a começar pelo vício da adaptação: a esquerda acomodou-se nas instituições e perdeu as periferias”. Essa á a versão de esquerda da autocrítica da direita.
São dois lado da mesma moeda. Enquanto a direita golpista influencia os setores da ala direita da esquerda sobre a autocrítica em relação à campanha contra a corrupção, ela influencia a setores da esquerda pequeno-burguesa a fazer a autocrítica sobre a “perda das bases” ou como Boulos mesmo diz uma esquerda que “pise no barro”. Na realidade, essa crítica que Boulos reivindica não passa de uma demagogia política por um lado e de propaganda eleitoral por outro.
Em nenhum momento o Psol propôs a ser diferente do que o PT foi durante todos esses anos. A própria campanha eleitoral do Psol não difere substancialmente da campanha do PT, a não ser justamente na fraseologia esquerdista em alguns pontos.
Isso fica claro inclusive no que Boulos cita como experiências vitoriosas de esquerda no mundo “enfrentamento a Wall Street de Sanders”, “renacionalização de Jeremy Corbin”, “Bloco de Esquerda português”. Os exemplos de Boulos não são alternativas reais ao regime político. Independente da apreciação que possamos fazer de cada um desses movimentos, fato é que nenhum deles se propõe a fazer diferente do que fez o PT. Mais ainda, todos esses três exemplos vitoriosos da esquerda são potencialmente mais direitistas do que foram os governos do PT. São nada mais do que a esquerda dentro do falido regime político burguês.
E é exatamente essa a concepção de Guilherme Boulos sobre como deveria ser a “nova esquerda”. Uma política que passe por dentro do regime e no Brasil, ainda mais grave, que passe por dentro do regime golpista. Como falou o próprio Boulos logo após a fraude que deu a vitória eleitoral para Bolsonaro””Não seremos um novo Aécio”, ou seja, devemos legitimar e manter esse governo golpista e fraudulento até o final e pior, quem se propõe a derruba-lo será comparado ao golpista Aécio Neves.
A oposição a Bolsonaro, que Boulos defende que deve ser “dura”, não pode ultrapassar os marcos do parlamento, da oposição institucional. Nada de derrubar Bolsonaro, nada de Fora Bolsonaro. Talvez seja isso que Boulos chama de “atalhos que não nos levam longe”. O longe talvez seja a eleição de 2022, o problema é saber se ainda estaremos vivos até lá.