A imprensa capitalista que fez ampla campanha em favor da vitória da candidatura da chapa de Guilherme Boulos e Luíza Erundina, nas prévias do PSOL, realizadas no último domingo, divulgando pesquisas em que ele já era apresentado como o candidato do partido e dando-lhe larga margem de vantagem sobre outros candidatos da esquerda como Jilmar Tato, do Partido dos Trabalhadores e Orlando Silva, do PCdoB, revolveu comemorar a “vitória” do seu candidato nas “primárias” daquele partido.
Assim, por exemplo, matéria publicada no jornal de economia Valor Econômico, vinculado às reacionárias organizações Globo, publicou artigo intitulado “Em SP, Boulos e Erundina miram a periferia e resgatam bandeiras do PT”, que enaltece a chapa anunciando que
“entre as principais bandeiras da pré-candidatura estão o combate à desigualdade social, a implementação da renda básica e o passe livre no transporte”.
A matéria do Valor/O Globo não economiza no carinho com os psolistas que entraram no partido às vésperas de eleições para serem candidatos nos principais cargos
Indo na mesma direção, “remando” à favor da maré ou mais acertadamente, da “onda” levantada pela imprensa capitalista nas últimas semanas, a jornalista Laura Capriglione, do Jornalistas Livres, acompanhou – da mesma forma – que outros setores da esquerda (principalmente da direita do PT) chegando a afirmar que
Para enfileirar argumentos a favor desse suposto “entusiasmo”, que não se manifestou até agora a não ser da parte de figuras tradicionalmente dispostas a abandonar o barco petista, como Tarso Genro (PT-RS), que em 2018 defendeu que o PT deveria apoiar o lançamento da candidatura de Boulos e não de Lula, a companheira Laura faz um certo esforço argumentando, por exemplo, que
Isso quando o método de escolha dos candidatos foi questionado praticamente todos os demais pré-candidatos, à exceção de Jilmar, uma vez que ao invés das tradicionais (e ao nosso ver antidemocráticas) prévias petistas, foi formado um “colégio eleitoral” (ainda mais antidemocrático) com a participação restrita aos dirigentes municipais e zonais do maior partido da esquerda em São Paulo e no País, no qual o “escolhido” detinha maioria prévia.
Destaque-se entretanto, que – nesse colégio restrito – o pré-candidato petista foi apoiado pela maioria dos sindicalistas e dirigentes de organizações populares que ocupam cargos na estrutura municipal do PT, com dirigentes da CUT, APEOESP, Sindicatos dos Químicos etc. os quais até agora, não expressaram qualquer inclinação no sentido de apoiar o candidato escolhido pela burguesia para ser “o candidato da esquerda” e que viria para “resgatar as bandeiras do PT”, o que – ao menos por hora – não evidencia – como afirma Capriglione que “A crise do PT na cidade de São Paulo está escancarada”. Ao menos não mais que já estava antes da “ascensão” de Boulos nas pesquisas encomendas e realizadas pela imprensa que notoriamente apoia o PSDB, que estaria muito interessado em que a crise do PT se desenvolvesse e que o partido não apresente condições de disputa real nas eleições da maior e mais importante cidade do País.
É importante destacar que tal situação não se trata de uma novidade, como querem fazer crer os beneficiados pela situação, os verdadeiros donos dessa campanha e os que acompanham a “onda”. O mesmo se viu em outras eleições anteriores como nas eleições presidenciais de 2006, 2010 e 2014, por exemplo, quando as candidaturas de Heloisa Helena (então no PSOL) e Marina Silva (primeiro no PV e, depois, no REDE), foram amplamente prestigiadas pela imprensa capitalista (e pela direita, é claro), “decolaram nas pesquisas” e, diante da crise, até chegaram a ter milhões de votos, com o empurrão da direita, com o claro objetivo de tentar impedir a vitória eleitoral de Lula e, depois, Dilma, no primeiro turno das eleições.
Boulos, público e notório defensor da frente ampla com a burguesia golpista, declaradamente avesso às mobilizações pelo Fora Bolsonaro (como toda a direita) e que atuou para dividi-la e desmobiliza-la, nada mais faz do que ser o “novo” agente da politica da burguesia de semear a divisão e a confusão, inclusive no interior do “seu” partido, no qual ele ingressou na semana em que já estava assegurada a sua escolha como candidato presidencial, em 2018.
Por isso mesmo recebeu o apoio, inclusive, para derrotar, tradicionais militantes do PSOL em São Paulo, com mais votos do que ele nas últimas eleições como a deputada federal Sâmia Bomfim.
Seu propósito nada tem a ver com unir a esquerda (a não ser no sentido de buscar recolher parte de sua votação) como “confessa” o terceiro colocado às prévias psolistas, deputado Carlos Giannazi, que após a derrota , em sua “mensagem de união”em torno de Boulos declarou que
“A candidatura dele vai representar o que sempre representou o PSOL, principalmente nesse momento em que nós vamos enfrentar a extrema direita de São Paulo, a direita liberal representada pelo tucanato e também a falsa esquerda representada pelo PT”
Enfrentamento com a extrema direita não há, da parte de quem se recusa a mobilizar pelo Fora Bolsonaro. Contra o “tucanato, nada, pois estão de mão dadas na frente ampla. Que sabe contra o que o PSOL considera ser a “falsa esquerda”, o PT e outros que não se enquadrem em sua política?