Em seguida à divulgação pela imprensa sobre a prisão do ex-presidente golpista Michel Temer, o candidato do Psol ns ultimas eleições presidenciais, Guilherme Boulos, apressou-se em comemorar a ação da operação Lava-Jato.
Em mensagem via twitter, afirmou: “Temer é um bandido que já deveria estar preso há tempos. Existem provas contundentes contra ele, não meras ‘convicções’. Esperamos apenas que sua prisão não sirva para fortalecer xerifes de toga, que se consideram acima da lei, nem pra desviar da crise do desgoverno de Bolsonaro”.
O que primeiro chama a atenção é o fato de que, em poucas palavras, um dirigente político da esquerda consiga dar uma declaração de absoluta ignorância com relação ao golpe de Estado no Brasil e o papel central da operação Lava-Jato na sua execução.
A crença de Boulos com relação aos bons propósitos da Lava-Jato faz lembrar a defesa apaixonada feita pela sua colega de partido, Luciana Genro, em 2017, quando o PT e seus principais dirigentes eram submetidos a uma verdadeira caçada jurídico-policial e a presidenta do país havia sido deposta em uma das manobras mais fraudulentas de toda a história republicana, tendo justamente como carro-chefe a chamada operação Lava-Jato.
“Considerada a maior investigação contra a corrupção já ocorrida no mundo “democrático”, a operação Lava Jato desmascarou o conluio entre a casta política parasita e as grandes corporações capitalistas: o capitalismo de compadrio, o clientelismo e o patrimonialismo”, assim escrevia Genro naquele ano.
Agora Boulos requenta a defesa de Luciana Genro. Apoia a prisão de Temer e a repressão da PF, de Moro e da Lava Jato, como se se tratasse de uma operação moralizadora, quando é patente o aprofundamento da crise do regime político e a disputa entre as diferentes alas da burguesia que apoiaram o golpe.
O problema crucial da crise do regime é justamente o esfacelamento do golpe. Apoiar um dos setores e nesse caso, o apoio é justamente ao setor dirigente do golpe, o imperialismo e seus lacaios brasileiros, como o ministro Sérgio Moro, é fazer coro com os objetivos nefastos do golpe para o país.
O apoio a uma das alas golpistas pela esquerda, significa, ainda, uma tentativa de bloquear uma saída independente dos trabalhadores, justamente em um momento que o governo Bolsonaro faz água por todos os lados e que o clamor popular não deixa dúvidas de que anseia por uma política que coloque abaixo esse governo e tudo que ele representa de nefasto para os trabalhadores e para o país.
A declaração de Boulos tem embutido um outro erro capital com relação à luta política da classe operária contra a burguesia e seu Estado. A Lava-Jato começou prendendo o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, mas o seu real objetivo era justamente Lula, o principal representante da luta contra o golpe, e isso já deveria ser prova mais do que suficiente de que essa é uma operação de perseguição política e que não tem absolutamente nenhum objetivo de combater a corrupção. Hoje é Michel Temer e Moreira Franco. Amanhã será uma nova condenação de Lula, Gleisi Hoffmann, dirigentes sindicais e por aí vai a caçada contra a esquerda.
Finalmente, poderíamos ainda dizer, que a declaração de Boulos é muito educativa no sentido de esclarecer aquilo que o movimento de luta contra o golpe deve combater à ferro e fogo, que é justamente a ilusão pequeno-burguesa de que possa existir algum tipo de moral que esteja acima da luta de classes, basta ver em restrospectiva os momentos cruciais do golpe de Estado no Brasil.