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Frente ampla

CPI reacendeu a esperança da esquerda nas instituições golpistas

Política de dependência da direita coloca a esquerda em posição de total nulidade política

Em sua nova coluna no jornal Folha de S.Paulo, o psolista Guilherme Boulos, ex-candidato à Prefeitura de São Paulo, vibrou com a notícia de que o Senado iria abrir a chamada CPI da Pandemia. Citando os casos de Fernando Collor e de Dilma Rousseff, Boulos afirma que as CPIs — Comissões Parlamentares de Inquérito — seriam um preparatório para a derrubada de governos e afirma abertamente: a CPI poderá ser um “gatilho” para um “novo impeachment”.

A declaração é, no mínimo, curiosa. Há pouquíssimos dias, o mesmo Guilherme Boulos, seguindo a ala direita da esquerda nacional, estava dizendo que o impeachment teria se tornado difícil após a eleição de Arthur Lira (PP) como presidente da Câmara dos Deputados. Dois meses depois, Boulos volta com a propaganda de que Bolsonaro está na beira do precipício… A que se deve isso?

Para que o leitor compreenda o motivo de tamanha volatilidade, basta analisar qual foi a postura que teve Boulos ao longo do governo Bolsonaro. Quando o presidente fascista venceu as eleições, Boulos reconheceu o processo como “legítimo” e passou a adotar as palavras de ordem mais genéricas possíveis: “resistir”, “ninguém solta a mão de ninguém” etc. Boulos só viria a defender a derrubada do governo Bolsonaro quase um ano e meio depois de sua eleição, quando teve início a pandemia de coronavírus.

Os motivos para que Boulos abandonasse o seu discurso de que Bolsonaro deveria ter o seu mandato respeitado e defendesse — na aparência — a palavra de ordem de “Fora Bolsonaro” são os mesmos que o levaram, agora, a acreditar que a CPI, proposta por elementos fascistas como Jorge Kajuru (Cidadania-GO), é a solução que o País precisa para todos os seus problemas. Para o psolista, só é possível derrubar o governo se a burguesia estiver de acordo com esse plano. Do contrário, não é possível derrubar o governo, mas apenas fazer uma suposta “oposição”.

É por isso que, na pandemia de coronavírus, Boulos começou a falar em impeachment e no “Fora Bolsonaro”. Quando viu os governadores estaduais e a imprensa capitalista criticarem o governo federal, o psolista interpretou, muito erradamente, que a burguesia iria se livrar do governo. Tão logo ficou claro que se tratava apenas de contradições superficiais, Boulos guardou o “Fora Bolsonaro” no armário.

Sabe-se lá por que, a esquerda nacional, incluindo o próprio Boulos, acreditou que, elegendo como presidente da Câmara um vigarista do MDB, Baleira Rossi, o processo de impeachment contra Bolsonaro poderia andar. Quando, no entanto, os “democráticos” do PSDB, do DEM e do próprio MDB abandonaram a candidatura de Baleia Rossi para apoiar o candidato governista, a esquerda se viu desiludida e chegou à conclusão de que não seria possível derrubar Bolsonaro com esse Congresso.

Agora, Boulos, expressando os setores mais carreiristas e pequeno-burgueses da esquerda, reacenderam as suas esperanças de que, na verdade, o Congresso poderá votar o impeachment de Bolsonaro. E por quê? Por acaso o Congresso foi alterado, sofreu alguma intervenção popular, alguma reciclagem? Não, o Congresso é o mesmo de sempre: um amontoado de golpistas capazes de vender a própria mãe para conseguir alguma vantagem no regime político.

A grande diferença é que, segundo Boulos, “a tese de que Bolsonaro estaria blindado com a eleição de Arthur Lira na Câmara é cada vez mais duvidosa”. A tese, diga-se de passagem, elaborada por ele próprio. Segundo o psolista, isso estaria acontecendo porque “o governo está no seu pior momento, com popularidade abaixo de 30%, colhendo os frutos da condução desastrosa da pandemia e da economia”. Bolsonaro, portanto, estaria “isolado, perdendo apoio entre os empresários, no povo e em crise com as Forças Armadas”.

Não há indícios de que Bolsonaro estaria “isolado” e perdendo força. Que há uma crise política, há. Mas a crise não demonstra em nenhum sentido, uma opção da burguesia pela derrubada de Bolsonaro e tendem, caso não criem alternativa rápida, a apoiá-lo novamente, Guilherme Boulos se apresenta neste sentido como um arauto das boas intenções… dos outros. O único problema é que os outros não tem essas boas intenções.

O que tem ficado cada vez mais claro com o avanço dos golpes de Estado na América Latina é que a burguesia precisa de governos de força. Que, na verdade, a burguesia precisa ir cada vez mais para direita para conseguir, ao mesmo tempo, impor um programa econômico duríssimo e conter as crises e revoltas. As eleições recentes no Equador são, inclusive, bastante sintomáticas: a burguesia está fazendo de tudo para impedir que um governo nacionalista chegue ao poder.

No Brasil, a operação para impedir que o PT chegue ao poder se torna cada vez mais delicada. A crise social é cada vez maior e Lula, neste momento, está com seus direitos políticos restituídos. A burguesia, portanto, vai ficando cada vez mais sem outra opção a não ser recorrer à extrema-direita para se manter no poder. Seja por meio de um novo governo Bolsonaro, seja por meio dos militares, a burguesia está procurando uma alternativa que não deveria ser minimamente celebrada pela esquerda, como o faz Guilherme Boulos ao falar do “isolamento” de Bolsonaro.

O segundo aspecto completamente equivocado da análise de Boulos sobre a situação política está no seguinte parágrafo:

“Hoje Bolsonaro é refém do centrão. E se há algo que caracteriza esse grupo é a fidelidade única a seus próprios interesses. O centrão tem ministérios e emendas parlamentares, mas a essa altura o foco já é a reeleição. Se Bolsonaro se torna definitivamente tóxico, quem vai querer pagar o preço de estar com ele? Alguém acredita que o centrão estaria disposto a afundar junto com o governo? Seria inédito na história política nacional”.

Por que tenta preocupação com o “centrão”? Porque, para Boulos, o movimento da burguesia é o que define a sua política. Para explicar o porquê de agora ser a hora de derrubar o governo, Boulos não recorre a uma análise da disposição das massas, nem a uma análise concreta da situação. Basta, portanto, olhar para onde a burguesia está apontando.

A burguesia não está apontando, neste momento, para a derrubada do governo. Pode vir a fazê-lo, mas, conforme a situação se torna mais crítica, esse movimento se torna mais arriscado. No entanto, o que merece maior destaque é que Boulos, aqui, se mostra não apenas um péssimo analista, mas fundamentalmente um apêndice da classe dominante, um político que depende totalmente da burguesia.

É por isso que, mesmo com todas as condições para o povo derrubar o governo, Boulos foi incapaz de se dirigir às massas com a palavra de ordem de “Fora Bolsonaro”. Para ele, assim como para uma parcela da esquerda nacional, só é possível fazer qualquer coisa em política se for com o consentimento da burguesia. Mas se for para ser assim, não há porque ter esquerda, nem partido político, nem movimento operário: que a burguesia, então, tenha a iniciativa plena para arrancar a pele dos trabalhadores!

A política do movimento operário não pode ser a de servir de tapete para os seus patrões. É preciso, portanto, denunciar a política de colaboração com a burguesia e organizar, de maneira independente, os trabalhadores para derrubar, já, o governo Bolsonaro e anular, na marra, os processos contra o ex-presidente Lula.

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