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Abaixo o clube-empresa

Botafogo S/A: uma ilusão que pode levar à destruição do time

Clube dos mais tradicionais do Brasil, os cartolas do Botafogo veem no clube-empresa a salvação financeira do clube. O resultado disso, porém, pode (e tende a) ser o oposto

A burguesia e a direita golpista caminham a passos largos para entregar o controle dos clubes de futebol brasileiros aos grandes capitalistas. Na última semana, a propósito, a Câmara dos Deputados, sob batuta do direitista Rodrigo Maia (DEM-RJ), aprovou o regime de urgência para a tramitação de um dos projetos de lei que busca implantar a figura do clube-empresa no Brasil.

Na Câmara e no Senado há mais de um projeto que visa a instituir o modelo empresarial no futebol brasileiro. Alguns desses projetos apresentam diferenças entre si quanto à forma de implantação do modelo. A imprensa burguesia, porém, já noticiou que, no entendimento de alguns cartolas, a pressa na aprovação do projeto capitaneado por Rodrigo Maia e seu correligionário, Pedro Paulo, tem a ver com o fato de que ele beneficiaria mais imediatamente um determinado clube que se encontra com os preparativos para aderir ao clube-empresa em fase bastante avançada. Esse clube seria o Botafogo.

Clube dos mais tradicionais do futebol brasileiro, o Botafogo, já há algum tempo, apresenta um quadro financeiro crítico. As dívidas do clube rondam a casa dos R$ 750 milhões, o que inclui débitos com fornecedores, União e ações trabalhistas. A cartolagem do alvinegro carioca enxerga na adoção do clube-empresa a salvação do clube, um meio para revitalizar financeiramente a instituição. Isso se materializaria na criação do Botafogo S/A, sociedade anônima que passaria a determinar os rumos do clube. A previsão dos cartolas botafoguenses é de que já no ano que vem, 2020, o Botafogo apareça no palco com o novo figurino.

Mas, realmente, se trata só disso? De recuperar as finanças do clube? Cria-se uma S/A, atrai-se os ditos investimentos, nacionais e estrangeiros, e a Estrela Solitária volta a brilhar quase que instantaneamente? Transformando-se em empresa capitalista, a relação entre o clube e seus torcedores permanece exatamente como era antes?

Para todas essas perguntas, a resposta é negativa.

Em primeiro lugar, não se trata pura e simplesmente de uma operação de recuperação financeira ou de atração de investimentos. Trata-se de uma operação que toca na própria natureza do clube, na sua finalidade e razão de ser, na sua estrutura de comando e poder. Transformando-se em empresa capitalista, o clube passa a estar submetido integralmente aos desígnios de seu dono, de seu proprietário. E, como o seu dono seria um capitalista, ou um grupo capitalista, o Botafogo inevitavelmente ficaria amarrado às necessidades e exigências de lucro do seu proprietário. De instituição esportivo-cultural, apoiada sobre bases populares, passaria a ser um mera instituição cuja finalidade não é senão auferir mais e mais lucros para seus donos ou acionistas.

Em segundo lugar, o clube-empresa está longe de ser um empreendimento infalivelmente bem-sucedido. Como é da natureza do mercado capitalista, a possibilidade do fracasso, da falência, é algo inerente. Mais do que isso, olhando para o histórico de iniciativas similares, o fracasso não é só uma possibilidade, mas uma tendência. O exemplo mais recente e significativo disso é o do Figueirense, clube catarinense que, recorrendo à “eficientíssima” iniciativa privada (no caso, a empresa Elephant), ficou à beira do precipício, tanto financeira quanto esportivamente, e que só não caiu desfiladeiro abaixo porque, no pico da crise, no momento em que o clube estava mergulhado em dívidas e atolado na parte de baixo da tabela na Série B do Brasileiro, a sua própria torcida cerrou fileiras e impulsionou a ruptura com a sanguessuga capitalista que fazia o organismo do clube definhar.

Outro caso que contraria as altas expectativas depositadas no clube-empresa é o da parceria Corinthians/MSI. Embora essa parceria não apresente, do ponto de vista jurídico, o mesmo formato do modelo que se tenta implementar agora, ela, na prática, representa o domínio de um agrupamento capitalista sobre um grande clube de futebol. Em 2004, o clube paulista e o fundo de investimento sediado em Londres, MSI (Media Sports Investment), firmaram acordo pelo qual a entidade financeira estrangeira assumiria o controle do departamento de futebol do clube. O início da parceria pareceu um sonho: muito dinheiro investido, várias contratações de peso (Tévez , Mascherano, Nilmar, Carlos Alberto, Roger Flores etc.) e, apesar dos escândalos envolvendo a “máfia do apito”, a conquista do Brasileirão de 2005. Em 2006, porém, começa o pesadelo: iniciam-se investigações sobre a origem do dinheiro da MSI, que geram acusações criminais (lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal) contra contra o fundo de investimento e seu representante no Brasil, Kia Joorabchian, e contra Alberto Dualib e Nesi Curi, então presidente e vice-presidente do clube, respectivamente. A parceria entra em crise e começa a afetar os resultados dentro de campo. O primeiro golpe foi a fatídica derrota para o River Plate na Libertadores, em 2006. Após os escândalos, a MSI deixa sua sede no Brasil abandonada, e seus representantes, entre os quais Kia, voltam para Londres. O contrato entre as partes só seria revogado em junho de 2007, mas o estrago já estava feito: a MSI deixou o Corinthians com uma dívida de R$ 90 milhões e, para coroar o desastre, com um elenco em completo desmonte que protagonizaria, ao final, o pior revés do clube em sua história — a queda para a Série B do Brasileiro.

Em terceiro lugar, a “empresarização” do clube constituirá um profundo ataque aos torcedores do clube, sobretudo aos seus setores mais pobres e explorados. Uma vez sob o controle dos capitalistas, não é preciso muita imaginação para prever a elitização do clube e do estádio, o encarecimento dos ingressos, os favorecimentos incontáveis e exclusivos aos sócio-torcedores, os ataques aos torcedores organizados e assim por diante. Uma empresa capitalista é o reino do capitalista, o terreno onde ele impera, onde ele manda e desmanda. Em se tratando de um grande clube de futebol, isso significa o total alijamento dos torcedores da vida do clube.

Um clube como o Botafogo, um clube popular e de massas, um clube com larga história, tradição e importância para o futebol nacional, é obra de inúmeras gerações de homens e mulheres, é obra de incontáveis gerações de jogadores, torcedores e dirigentes, é obra coletiva, portanto de uma ampla fração das massas. Entregá-lo ao domínio completo dos capitalistas é o mesmo que privatizá-lo, se apropriar em caráter privado de uma entidade social, expressão do povo e de sua cultura. O clube-empresa promete a recuperação financeira do clube, mas o que ele pode e tende a entregar é a sua falência e bancarrota. O clube-empresa promete a revitalização e modernização do clube, mas o que ele pode e tende a entregar é o aniquilamento, gradual ou abrupto, de sua história, de suas tradições, de suas cores e de seu caráter popular.

Aquilo que é obra do povo e é do interesse do povo, deve ser controlado e dirigido pelo próprio povo. O Botafogo é obra dos botafoguenses, é do interesse dos botafoguenses e, por isso, deve ser controlado e dirigido pelos botafoguenses, e não por este ou aquele acionista, por este ou aquele grupo capitalista. Abaixo o clube-empresa!

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