Nesta quarta-feira (20/01) O Reino Unido registrou 1820 mortes causadas pelo COVID-19, um novo recorde de mortes diárias e que representa um aumento de 23% em relação ao dia anterior que era ele mesmo já um recorde. Nesse mesmo dia, o Primeiro-Ministro, Boris Johnson, foi ao parlamento para explicar as medidas que seu governo tem tomado para o enfrentamento da pandemia no país. Ele admitiu que existem dificuldades na oferta de vacinas. A última semana já fora considerada a pior em número de mortes que atingiram uma média de 1.000 casos por dia. No parlamento Boris Johnson tem recebido e rejeitado pedidos insistentes para a abertura de uma investigação sobre o gerenciamento por parte do governo da crise sanitária. Ele alega que diante da pressão financeira causada pela pandemia não seria oportuno neste momento desviar recursos empregados diretamente no seu combate. Seis meses atrás Johnson havia prometido a abertura de uma investigação independente quanto ao assunto. Confrontado por um deputado que apresentou dados dando conta da altíssima taxa de mortes per capita, Johnson descartou a possibilidade de abrir qualquer investigação neste ano.
Apesar de o Reino Unido estar sob o regime de confinamento (lockdown) são corriqueiras as notícias que trabalhadores estão sendo pressionados a retornar a seus postos de trabalho. Os maiores afetados são aqueles com empregos precários. Muitos têm alegado que mesmo diante da possibilidade cumprir suas tarefas em casa seus empregadores pressionam para que o façam em seus locais de trabalho. Reclamações quanto a falta de proteção em relação ao COVID-19 nos locais de trabalho também têm sido frequentes. Apesar do grande número de denúncias o órgão governamental responsável pela fiscalização do cumprimento das normas sanitárias de emergência (Health and Safety Executive [HSE]) não emitiu nenhuma notificação às empresas violadoras de tais normas. Desde o início da pandemia dos cerca de 97.000 casos relativos a segurança quanto à pandemia apenas 0,1% resultaram na tomada de alguma medida concreta. Nenhum caso resultou em processo judicial.
Tendo em vista o estado de pobreza generalizada entre os trabalhadores do Reino Unido medidas como o confinamento e o distanciamento social são uma ilusão. A garantia de uma renda pelo governo suficiente para manter as famílias em casa seria a primeira condição para evitar a propagação da pandemia. Há notícias de famílias que estão evitando fazer testes de COVID-19 porque não têm como se manterem isoladas se testarem positivo.
O jogador de futebol Marcus Rashford que faz uma campanha de socorro a crianças pobres fez um apelo no sentido de que seja garantida uma refeição por dia a todos os estudantes da Inglaterra. A raiz do problema está além da pandemia em si. O empobrecimento geral da classe trabalhadora, um estado incompetente que não consegue cumprir suas funções básicas e releva um sistema que já se esgotou são as razões pelas quais essa pandemia assumiu desnecessariamente esse caráter de tragédia.