Entre março e julho, as exportações brasileiras de arroz cresceram 260%. O dado coincide com a desvalorização do real, que tornou o arroz brasileiro mais barato no exterior (e a produção de conjunto) mas há também a política nacional de comércio exterior, destoando de praticamente todos os países produtores do Sudeste Asiático.
Vietnã e a China, dois grandes produtores, por exemplo “resolveram não exportar por segurança (alimentar)”, conforme avaliação do coordenador do núcleo econômico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Renato Conchon, similar a análise José Mathias Martins, presidente da Cooperativa Arrozeira Palmares, de Palmares do Sul (RS), que em entrevista ao UOL declarou: “os países asiáticos pararam de exportar, e os Estados Unidos, maiores exportadores das Américas, estavam sem produto. Então, houve alta na procura pelo arroz brasileiro”.
Diante da situação, o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, ao invés de fazer o mesmo, zerou as taxas de importação, uma medida inócua diante da política de resguardar a própria segurança alimentar, levada a cabo pelos países produtores. A própria explosão das exportações brasileiras é um reflexo do fato de que praticamente todos os países estão estocando alimentos e não vendendo, o País segue sem perspectiva de solução para o problema da carestia.
Ainda mais criminoso, em 2015, o Brasil tinha mais de 1 milhão de toneladas de arroz em estoque, reduzidos a apenas 22 toneladas atualmente, o que equivale a menos de uma semana do consumo nacional.
Consquência disto, um estudo da Universidade de São Paulo mostra um aumento médio no preço do arroz em 120% no intervalo 12 meses, chegando a 275% em Brasília, onde o saco de 5kg saiu de R$8,00 no começo da pandemia para uma média de R$30,00. A associação nacional de Procons, ProconsBrasil, divulgou que os aumentos chegavam a 320% em algumas localidades.
Sendo um dos mais básicos alimentos da dieta consumida pelos trabalhadores brasileiros, o arroz, como tudo na sociedade capitalista, sofre um forte ataque especulativo, o que está na raiz da crise envolvendo a disparada do preço dos alimentos.
Uma explicação muito difundida pela imprensa para este aumento é análogo à tradicional tática da burguesia, de responsabilizar a população pelas consequências da política da direita, no que conta com o lastimável apoio de setores da esquerda. Contudo, o drama atual vivido pela população está estritamente ligado ao desenvolvimento da luta de classes, à ditadura exercida pela burguesia sobre a política econômica, com impactos diretos na vida cotidiana e na própria segurança alimentar da população, que tem esta ameaça ampliada pelo domínio dos grandes capitalistas sobre o comércio externo brasileiro, que em um governo operário, teria de ser orientado pelo interesse dos trabalhadores.