Na última sexta-feira (dia 5 de março) o presidente golpista Jair Messias Bolsonaro (sem partido) afirmou que mandou preparar um projeto de lei que amplia a lista de atividades essenciais e que deverá ser enviado ao Congresso Nacional.
Conforme ele mesmo disse, em conversa com apoiadores ao chegar ao Palácio da Alvorada: “Essa história do ‘ficar em casa’, para quem tem dinheiro, tudo bem. O pessoal muitas vezes trabalha hoje para comer amanhã, ou comer à noite. Eu falei ontem o que é atividade essencial. Mandei preparar um projeto nesse sentido”.
Ele também falou que quem decidirá sobre esse assunto e definirá a lista de atividades essenciais será a Câmara dos Deputados: “A Câmara é quem vai decidir. Atividade essencial é toda aquela necessária para o chefe de família levar o pão para casa. Por que o cara que é encanador, por exemplo, não é essencial? Ele vai levar o que pra casa?”.
Certamente, não há nada de realmente surpreendente no que o fascista Bolsonaro pretende fazer. Ele (e toda a extrema-direita) nunca esconderam que prefeririam jogar os trabalhadores aos leões e, nesse caso, um dos leões (e não o único) é o novo coronavírus. Essa é a verdade, ainda que ele apresente a sua política genocida revestida de um discurso inteiramente demagógico de defesa do “pai de família”. Não é preciso ser um grande gênio para perceber que ele não dá a mínima para essas pessoas.
Logo após tal declaração, a imprensa burguesa, porta-voz da direita tradicional e do imperialismo, reagiu dizendo que a iniciativa de Bolsonaro tem como objetivo enfraquecer as medidas de isolamento que estão sendo colocadas em prática por governadores e prefeitos. Porém, é preciso apontar mais uma vez que tal oposição entre Bolsonaro e a direita “civilizada” e “científica”, se não é falsa, é, para dizer o mínimo, superficial.
As tais medidas de isolamento social adotadas pelos baluartes da civilidade direitista nada mais são do que uma farsa. O chamado “lockdown” que está sendo implementado Brasil afora serve para que prefeitos e governadores possam alegar que estão adotando duras medidas contra a pandemia, o que não é verdade e, portanto, na prática o restante da direita é tão demagógica quanto a direita bolsonarista.
Em primeiro lugar, não há lockdown nenhum. Em todos os lugares o transporte público continua lotado de trabalhadores, que permanecem sendo obrigados a sair de suas casas para trabalhar e se expor ao vírus. As restrições, na maior parte dos casos, só servem para restringir a movimentação de pessoas pela cidade após um determinado horário da noite, horário no qual boa parte dos trabalhadores já está em casa, descansando de um dia de trabalho. Será que os governantes-cientistas descobriram, por meio de uma apurada pesquisa científica (embora não tenham publicado em periódico científico algum), que o COVID-19 é um vírus boêmio, que só sai à noite, desejante de viver a vida noturna das cidades?
Isso, por si só, é suficiente para mostrar que, se os bolsonaristas estão fazendo demagogia de um lado (querendo passar a impressão de que se importam com a dificuldade do povo durante o falso lockdown), a direita tradicional é igualmente demagógica de outro (querendo passar a impressão de que se importa com a vida das pessoas, lançando mão de medidas que supostamente seriam de isolamento, mas que não servem para isolar praticamente ninguém).
Mas, isso não é tudo. Voltando à ampliação das atividades essenciais. Quem haverá de decidir sobre o projeto de Bolsonaro? O próprio presidente fascista disse: os parlamentares. Entre os parlamentares não há apenas os representantes da extrema-direita asquerosa. Lá estão também os representantes da boa e velha direita tradicional (igualmente asquerosa), partidários desses mesmos governadores que supostamente estariam tomando duras medidas para proteger a população do novo coronavírus. Se houvesse uma oposição real entre o bolsonarismo e os direitistas “civilizados” na questão do enfrentamento à pandemia, não seria possível contar com estes parlamentares para ampliar a lista de atividades essenciais.
Trata-se de mais um indício da política demagógica da burguesia. Sua política nada mais é do que fazer demagogia com um lockdown de mentira, enquanto amplia a lista de atividades essenciais. A burguesia faz isso ao mesmo tempo que, desde o início da pandemia, não proporcionou meios realmente eficazes de se prevenir em relação ao coronavírus, nem no sentido sanitário e nem no sentido econômico. Nunca houve testagem em massa, nunca houve isolamento para a grande maioria da população, nunca houve um auxílio que realmente pudesse viabilizar o “fique em casa” para os trabalhadores. E agora não há vacina para a população, porque os golpistas não tem nenhum interesse real em vacinar o povo, que é o que poderia salvar a vida de um incontável número de pessoas.
Tal cenário mostra que a suposta contradição entre “negacionistas” e “científicos” é algo completamente secundário perto do massacre que ambas as alas da direita levam a frente contra toda a população. Diante disso, não há outra saída que não seja mobilizar o povo para exigir a derrubada de Bolsonaro e todos os golpistas, o fim do programa de terra arrasada que o golpe de Estado vem impondo ao Brasil, exigindo que toda a população seja vacinada, coisa que não se pode fazer por meio de carreatas, panelaços, “mobilizações” virtuais, mas apenas indo aos bairros, às feiras, aos locais de trabalho, enfim, indo às ruas.
