Adélio Bispo, autor da suposta facada que teria atingido Bolsonaro em plena campanha eleitoral, em 2018, foi considerado inimputável e absolvido pela primeira instância de Juiz de Fora.
Ao que parece, esta decisão não desagradou nem ao Ministério Público nem ao próprio Bolsonaro, pois nenhum deles recorreu da decisão, que agora é definitiva.
Justamente no caso de alguém que teria atentado contra a sua própria vida, Bolsonaro não demonstrou interesse sequer por uma revisão da decisão em instância superior.
Como o fascista nunca demonstrou que tem a piedade como um de seus atributos, ainda mais com aqueles que ele considera “bandido”, esta atitude de Bolsonaro traz ainda mais suspeitas acerca da pretensa veracidade da conhecida facada.
O que se sabe é que o atentado — real ou inventado — foi providencial para a campanha eleitoral do Bolsonaro. Por um lado, possibilitou toda uma propaganda que colocava Bolsonaro como vítima de ação violenta de seus “inimigos radicais”. E, por outro, justificou a ausência de Bolsonaro em debates e entrevistas, algo considerado por muitos tão essencial para a sua eleição que poderia até mesmo ter sido o principal ganho político para a sua campanha.
De fato, não é necessária muita sagacidade para descobrir justos motivos pelos quais os responsáveis pela campanha de Bolsonaro tivessem tomado a decisão de escondê-lo do eleitor.
Além do fato de que o seu governo apenas iria servir para destruir direitos da população e entregar riquezas e patrimônio nacional ao imperialismo — o que certamente não ajudaria muito em uma campanha minimamente honesta — a sua absoluta incapacidade de sequer concatenar algumas poucas ideias coerentes seria um entrave intransponível em sua tarefa de enganar o povo brasileiro, e assim conquistar uma mínima base de apoio para que se pudesse trazer ares de legitimidade a uma eleição fraudada desde o início.
Não há dúvidas de que Bolsonaro não teria nada a dizer acerca dos graves problemas econômicos e políticos pelos quais o Brasil passa desde o golpe. Não saberia se livrar de perguntas incômodas como suas ligações com milícias, seu interesse direto na prisão de Lula, nem mesmo sobre pontos nos quais fundamentou sua campanha, como os virulentos ataques à esquerda.
Melhor mesmo seria escondê-lo do eleitor. E a estranha facada sem vestígios de sangue que o colocou como uma vítima perseguida de “radicais” veio na hora exata para a burguesia conseguir salvar o golpe e entregar a Bolsonaro, ainda que muito a contragosto, o Poder Executivo nacional.
A resignação com a absolvição, que envolveu até mesmo o Ministério Público, para muitos é fato que não deixa mais dúvidas sobre a facada ter sido apenas uma jogada fraudulenta a mais na mais que fraudada eleição de 2018.
E, de fato, diante do nível de golpismo que foi necessário para eleger Bolsonaro, que teve de contar até mesmo com o agenciamento de todo um setor golpista do judiciário e da imprensa para prender Lula, não seria a encenação de um simples atentado de mentira algo difícil de ser executado pela burguesia.