Ultimamente, um setor extremamente pequeno-burguês e direitista da esquerda nacional passou a defender abertamente que os grandes monopólios da imprensa capitalista censurem aqueles a quem acusam de difundir “notícias falsas”. Importando até mesmo a expressão dos Estados Unidos — “fake news” —, esse setor tem pedido punições para quem propague as tais “notícias falsas”, bem como se mostrou entusiasmado com os bloqueios de usuários da extrema-direita acusados de “intolerância”.
O pretexto para que a esquerda tenha caído nessa cruzada moralista em busca do “jornalismo isento” e da “verdade absoluta” é que, no momento, os alvos mais notórios da censura pertencem à extrema-direita. É o caso, por exemplo, do ex-presidente norte-americano Donald Trump, bloqueado no Twitter, no Pinterest e no YouTube, e do próprio Jair Bolsonaro, que é acusado de ter vencido uma eleição por causa das “fake news” — quando, na verdade, venceu porque a esquerda capitulou vergonhosamente e abandonou o ex-presidente Lula.
O debate sobre as “fake news” não faz sentido algum porque só serve, finalmente, para reforçar a autoridade da imprensa capitalista e do Estado burguês contra a população. A mesma esquerda que defende a formação de uma frente ampla com os golpistas — que naufragou completamente após as eleições no Congresso — defende uma frente ampla junto à Folha de S.Paulo, ao Estado de S.Paulo e à Rede Globo contra as “fake news”. Afinal, a imprensa capitalista é a expressão dos interesses da mesma classe social que comanda o Estado. E, se a esquerda pretende recorrer ao Estado para decidir aquilo que é verdade ou não, verá que o “combate” às “fake news” só se dará onde a burguesia não vê os seus interesses sob risco.
Não raramente, a esquerda nem mesmo recorre aos juízes e policiais do Estado para determinar o que são “fake news” ou não. De tão integrada que está ao regime político, a esquerda já passa a considerar como “fake news” tudo aquilo que a imprensa burguesa diz que é. Se a Folha de S.Paulo rasga elogios à política de vacinação de João Doria, a esquerda aplaude a vacina que não existe e mostra os dentes para o primeiro que fizer qualquer crítica a essa farsa.
Tal política é um erro colossal. Ignora, por exemplo, que um membro da chamada comunidade das informações, Edward Snowden, arriscou o pescoço dele para mostrar que as redes sociais são diretamente controladas pelo governo norte-americano. O mesmo YouTube e o mesmo Twitter que censuraram Trump são controlados por um governo que admitiu publicamente que espionava o mundo inteiro…
Visto por esse ângulo, o apoio da esquerda pequeno-burguesa aos monopólios da imprensa e das redes sociais é muito mais criminoso. Além de atentar contra o direito democrático da liberdade de expressão, que deveria ser garantido para todos, independentemente de a pessoa ser de extrema-direita ou não, a esquerda está formando uma frente única com quem tem muito mais poder para mentir e impor a sua política do que Jair Bolsonaro ou Donald Trump. Diante de um mamute como a Rede Globo, que conta com um aparato colossal e o apoio do imperialismo, Bolsonaro não passa de um grilo, restrito a suas redes sociais.
Na época da campanha das “Diretas já”, houve um ato com 80 mil pessoas na rua, no dia do aniversário da cidade de São Paulo. A Rede Globo, ao cobrir o ato, disse que o povo havia se reunido para comemorar o aniversário da cidade, ignorando completamente o protesto contra a ditadura militar. Durante toda a campanha, a Rede Globo mentiu o tempo todo, ocultando os atos, dizendo que era outra coisa. Sua capacidade de mentir e falsificar informações, portanto, causa um estrago muito maior porque é, finalmente, um monopólio, capaz de organizar todo um movimento político em torno de sua propaganda fraudulenta. E, considerando que a Rede Globo, por suas próprias características de monopólio, consegue ter uma presença muito maior no acompanhamento das notícias que qualquer outro órgão, seu poder de distorção é imensurável.
Partindo para um exemplo mais recente, pode-se citar todas as falcatruas da Rede Globo durante o golpe. Os golpistas da Família Marinho deram uma cobertura colossal a todas as acusações contra o ex-presidente Lula, a sua prisão, a sua acusação no “Power Point” de Deltan Dallagnol etc. Já quanto aos áudios da Vaza Jato, o Jornal Nacional praticamente não toca no assunto…
Com o apoio aos monopólios, a esquerda pequeno-burguesa está ajudando o imperialismo a formar um grande tribunal da opinião mundial. Que só poderá virar uma censura generalizada. Todo mundo que falar o que os monopólios não querem, será censurado. É o que mostra, por exemplo, o recente caso do blogueiro bolsonarista Alan dos Santos, expulso do YouTube por denunciar a provável fraude eleitoral nas eleições norte-americanas.
Trata-se, na prática, de uma defesa das instituições do imperialismo contra qualquer opinião dissidente, uma espécie de pensamento único. A esquerda de conjunto deve se levantar contra essa censura e denunciar a ofensiva da direita contra os direitos democráticos em todo o mundo. Até porque o alvo do imperialismo não é a extrema-direita, mas sim para quem mais apresenta risco para o regime: a esquerda e o movimento dos trabalhadores.