Na manhã da última quarta-feira (13), dois jovens invadiram uma escola em Suzano, na Grande São Paulo, e atiraram contra estudantes e funcionários, levando ao menos oito pessoas a óbito. Em seguida, os jovens, que eram ex-alunos da escola em questão, cometeram suicídio.
Como em todo acontecimento de grande repercussão, a imprensa burguesa utilizou o fato para desviar as atenções das contradições mais agudas do capitalismo e procurou fazer alguma demagogia para arrastar setores da pequena-burguesia para uma política contrarrevolucionária. Nesse caso, a burguesia, acompanhada da esquerda pequeno-burguesa, aproveitou os acontecimentos para fazer uma campanha pelo desarmamento da população e, inevitavelmente, pelo fortalecimento da Polícia.
Para a burguesia e para a esquerda pequeno-burguesa, o brasileiro não poderia andar armado porque seria irracional, isto é, capaz de adentrar uma escola atirando em crianças. No entanto, essa concepção obrigatoriamente leva a duas conclusões profundamente adversas ao desenvolvimento da luta dos trabalhadores. A primeira é de que, se o povo brasileiro é irracional, o monopólio das armas deveria estar nas mãos de um órgão racional. O nome do órgão que possui o monopólio do uso das armas é a Polícia, que é fundamentalmente bolsonarista. Ou seja, se o povo é irracional, o racional seria o bolsonarismo.
A segunda conclusão da tese que a burguesia apresenta é que se o brasileiro é um ser incapaz de utilizar uma arma, então o ministro golpista da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, estaria correto ao afirmar que os brasileiros são canibais. Concordar com a ideia de que o brasileiro não possui faculdades psíquicas para carregar uma arma seria, portanto, concordar com Ricardo Vélez Rodríguez.
Os assassinatos em Suzano nada têm a ver com o armamento ou não da população. Embora os motivos específicos ainda sejam desconhecidos, o crime realizado pelos jovens é consequência direta da decadência do capitalismo. Matar crianças em uma escola e tirar a própria vida em seguida não é perspectiva de vida para ninguém: isso é resultado do massacre que o capitalismo opera contra todos.
Em uma sociedade em que não há perspectiva de emprego, em que a Polícia mata arbitrariamente a depender da cor da pele da vítima, em que a Educação é tratada com o maior descaso, é natural que os indivíduos, esmagados, reajam de maneira violenta e irracional contra a realidade que lhe é imposta. Para impedir novos massacres, a tarefa da esquerda revolucionária não pode ser tirar as armas da população, mas sim armá-la e mobilizá-la para enfrentar seu verdadeiro inimigo: o capitalismo.