Bolsonaro não é apenas entreguista, o seu governo usa os momentos propícios para se desfazer ou melhor doar o patrimônio do povo brasileiro. É justamente o que está fazendo com a segunda maior refinaria do País, a Landulpho Alves, construída em 1950 no recôncavo baiano e responsável pelo desenvolvimento do polo petroquímico de Camaçari ao colocá-la à venda em um momento de profunda baixa no preço do petróleo.
A Petrobras iniciou na última quinta-feira o recebimento do que se chama de “oferta vinculante”, pela qual o potencial comprador se compromete com os termos propostos de compra da REPLAN, que é responsável por 14% do refino do petróleo brasileiro. Até o dia de ontem, a Petrobras havia admitido o recebimento de proposta apenas da Mubadala Investment, um fundo soberano dos Emirados Árabes, que faz parte do cartel do petróleo. Não foi confirmado a entrega de propostas por outros conglomerados que estariam na “disputa”, entre eles o indiano – leia-se inglês – Essar Group e a chinesa Sinopec.
Sabidamente o petróleo está por trás dos golpes de Estado que ocorreram na América Latina nos últimos anos, inclusive à tentativa permanente de derrubada do governo bolivariano da Venezuela. Daí um dos objetivos centrais do imperialismo estar em se apossar das fabulosas jazidas de matéria-prima dos países atrasados em proveito dos grandes grupos econômicos ligados ao monopólio do petróleo.
Devido ao desenvolvimento da indústria petroquímica no Brasil, essa operação está casada por um lado, pela venda de ativos – nesse momento oito das 14 refinarias que existem no País, estão em processo de privatização – além da BR Distribuidora, blocos do pré-sal, entre outras empresas do Sistema Petrobras. Mas, também, pelo simples fechamento de empresas, como a FAFEN – Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná, no início de 2020, a última existente no País, uma vez que a Petrobras já havia fechado as fábricas da Bahia e do Sergipe. Resultado da liquidação dessas empresas é que o País transformou-se em importador desses produtos vitais para a agricultura.
A destruição do parque industrial petrolífero tem o claro propósito de beneficiar os grandes grupos econômicos do setor. O objetivo é transformar o Brasil em um mero exportador de petróleo cru e importador dos produtos beneficiados, visando integrar o País aos interesses do imperialismo no controle do petróleo em todo o mundo. Nesse sentido, as refinarias privatizadas serão usadas de acordo com interesses das grandes potências e não de acordo com o interesse nacional.
A política de liquidação do patrimônio da Petrobras, vai além das privatizações. Parte das plataformas de petróleo estão simplesmente sendo vendidas como sucata, em leilões virtuais, como denunciou a Federação Única dos Petroleiros (FUP). Ou ainda, com o desmonte deliberado por parte da empresa de outras refinarias, como é o caso da de Duque de Caxias no Rio de Janeiro (REDUC), a maior do País, recentemente atingida por um incêndio de grandes proporções por falta de manutenção e de funcionários qualificados, conforme, também acusou a FUP.
A política deliberada do golpe de Estado de liquidar a Petrobras traz ainda no seu bojo ataques cada vez maiores aos seus trabalhadores. Uma das categorias operárias mais atuantes do País, os petroleiros sofrem hoje as maiores consequências com o alastramento da pandemia do coronavírus. São centenas de infectados em todos os estados de atuação da empresa, inclusive submetendo funcionários e terceirizados – um setor que hoje é maioria na Petrobras – a condições de trabalho verdadeiramente degradantes, como, por exemplo, a obrigação de trabalhar nas plataformas em alto mar, sem testes de detecção do coronavírus, sendo muitos doentes, como atesta o sindicato dos petroleiros do Espírito Santo, que está defendendo a greve como única forma de salvar vidas.
A dimensão do estrago que o golpe de 2016 patrocinou vai ainda além da empresa. Toda a política de desenvolvimento de uma indústria de base vinculada ao pré-sal foi simplesmente liquidada. Estima-se que pelo menos 500 mil trabalhadores foram demitidos a partir de 2015 em toda a cadeia produtiva.
Embora seja o carro chefe da destruição da indústria nacional, a Petrobras não é a única. A reversão do quadro de desmonte do Brasil só pode se dar por meio de uma luta sem trégua contra o governo do fascista Bolsonaro e de todos os golpistas.
Nesse sentido, a declaração de Deyvid Bacelar de que “A FUP e seus sindicatos, continuarão junto com a sociedade, defendendo a soberania nacional e os interesses da população brasileira. Não podemos permitir que nossas refinarias sejam vendidas, nem que essa gestão se aproveite da pandemia para entregar de bandeja o patrimônio público”, para ser levada às últimas consequências deve estar baseada em uma grande mobilização da classe trabalhadora, a começar pelos petroleiros, em defesa do patrimônio nacional, da vida dos trabalhadores contra a morte pela pandemia e pelo Fora Bolsonaro.
A CUT tem que cumprir um papel central nessa luta construindo a unidade dos petroleiros com os trabalhadores das demais empresas – que estão na mira do governo e da sua política de privatização. Estendendo essa unidade para o conjunto dos explorados do País, para ir às ruas! Organizar as greves! Pois a Petrobras é do povo brasileiro e só irá sobreviver na medida em que avance a campanha pelo fora Bolsonaro e todos os golpistas!