Foi divulgado pela reportagem do Estado de S. Paulo nessa semana o que eles chamam de “tratoraço”, operação a partir da qual Bolsonaro negociava apoio com o centrão no Congresso com a contrapartida de concessão da administração de enormes verbas destinadas a Companhia de desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevest), companhia loteada pelo centrão. O dinheiro era destinado a compra de tratores que se enquadram nos serviços de desenvolvimento da agricultura familiar e do desenvolvimento dos setores rurais.
A compra e a entrega desses tratores serve aos deputados como propaganda política a partir da realização de eventos de entrega dos equipamentos. Quer dizer, favorece o controle dos redutos eleitorais. Mas a questão essencial do problema é que os tratores chegaram a ser superfaturados em mais de 200% quando comparados os valores da tabela oficial de preços do governo. Além disso, alguns tratores foram comprados a mais de dois mil quilômetros de distância dos redutos eleitorais, sendo permitida a compra pela companhia.
Alguns exemplos do ocorrido são as compras do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), que chegou a movimentar 277 milhões de reais de verbas públicas do Ministério do Desenvolvimento Regional. É preciso destacar, nesse sentido, que o limite máximo de requerimentos permitidos por lei seria a soma de 8 milhões de reais de gastos por ano por deputado. Isso implica no fato de que Alcolumbre chegou a movimentar o referente a 34 anos de verbas.
Esse enorme contingente de verbas movimentadas pessoalmente por Alcolumbre explica a traição do centrão ao seu próprio partido, com o apoio do candidato do Bolsonaro nas eleições da presidência da Câmara dos deputados. Membro do diretório nacional do DEM, Alcolumbre é um dos elementos de decisão nas movimentações políticas desse setor do centrão.
A concessão de verbas, contudo, não abarca apenas membros do DEM, Claudio Cajado (PP-BA), Flavia Arruda (PL-DF), Bosco Saraiva (SD-AM), e Vicentinho Júnior (PL-TO) também receberam aquilo o que eles chamaram de “cotas” das verbas do Ministério de Desenvolvimento Regional. Para se ter uma ideia, alguns dos ofícios enviados por eles continham 12 milhões, 5 milhões, 2 milhões e 600 mil reais, respectivamente. A maneira como eles se referem às verbas, usando os termos “minha cota”, “fui contemplado” e “recursos a mim reservados” mostra que a operação de corrupção é algo corriqueiro entre os deputados e o governo federal.
Nesse momento, é importante caracterizar corretamente o ocorrido. Quer dizer, não é possível se deixar levar pela campanha moralista desenvolvida pela própria burguesia e pela esquerda pequeno-burguesa. Pelo contrário, é preciso lembrar que o próprio Bolsonaro se colocava como o paladino da luta contra a corrupção, dizia que ia “acabar com a mamata”, “mudar tudo isso daí” e outras declarações semelhantes. Contudo, o que é visto pelo tratoraço é que os maiores “lutadores contra a corrupção” são de fato, os maiores corruptos.
É preciso salientar, dessa forma, que a corrupção não é a exceção na política burguesa, mas é a regra. Todo o regime burguês estrutura-se pela compra e venda de interesses a partir de operações financeiras. Essa é, de fato, a única explicação para a venda das enormes empresas nacionais a preço da banana para o capital internacional: corrupção.
Apenas com a compra dos setores responsáveis pela aprovação da entrega dos recursos nacionais seria possível entregar a Vale do Rio Doce, por exemplo, pelo valor de uma parcela dos lucros da empresa em um único mês.
O “combate a corrupção”, na verdade, deve ser o combate contra a burguesia no Estado. A luta das massas em favor do socialismo, e da construção de um Estado de abundância econômica é, portanto, a única maneira de combater a corrupção. Enquanto houver um Estado de escassez que é o capitalismo, com a política de benefício individual da riqueza coletiva, a corrupção será apenas um elemento fundamental de funcionamento do sistema.