“Macri, basura [lixo], vos sos la ditadura”
(grito popular contra o atual presidente argentino)
Desde que venceu as eleições presidenciais na Argentina, Mauricio Macri foi incensado pela direita brasileira, exaltado como uma espécie e salvador do povo argentino contra os males que o peronismo teria produzido naquele país ao longo de sua existência.
O Movimento Brasil Livre (MBL), por exemplo, fez pesada propaganda do presidente argentino, sugerindo que deveríamos ter um Macri brasileiro, um neoliberal que salvaria o País e aos continente latino-americano das políticas bolivarianas que a esquerda teria implementando na América Latina e, segundo o MBL, prejudicado nosso desenvolvimento.
Parece que, hoje, nem o MBL, nem mais ninguém da direita brasileira está disposto a defender o fracassado presidente patagão, muito menos os próprios argentinos.
Foram cinco greves gerais, sendo a última iniciada essa semana, a maior até agora, caracterizada por uma união sindical inédita no país. Foi convocada por todas as centrais de trabalhadores, apoiada por todas as organizações empresariais (de pequenas e médias empresas) e por todos os movimentos sociais no país.
Até mesmo Hugo Moyano, líder do poderoso sindicato dos caminhoneiros, após ter apoiado Macri, volta-se para o “kirchnerismo”. É importante lembrar que o poder de mobilização dos caminhoneiros é gigantesco, afetando a distribuição de alimentos, de combustível e até de dinheiro nos caixas eletrônicos, além da coleta de lixo.
A greve paralisou Buenos Aires, afetando inclusive voos internacionais, isso faltando apenas cinco meses para as eleições presidenciais.
O que, afinal de contas, produziu o neoliberal Mauricio Macri para deixar os argentinos tão desesperados a ponto de promoverem cinco greves gerais e manter mobilizações enormes nas ruas?
Vamos citar algumas das “conquistas” da política neoliberal da Casa Rosada sob comando de Macri:
- As tarifas administradas pelo governo, como transporte, energia elétrica, água e gás, sofreram aumentos de mais de 2000%.
- A reforma previdenciária proposta pelo neoliberal Macri elevou o tempo de trabalho e modificou a fórmula de cálculo das aposentadorias, o que provocou, somente em 2018, uma perda real no valor do benefício de 17%.
- Eliminou benefícios a idosos e jovens, acabou com medicamentos gratuitos para idosos e a distribuição de notebooks a alunos da rede pública de ensino, por exemplo.
- O salário mínimo foi reduzido de 650 dólares para 242 dólares em três anos e meio de governo.
- O peso argentino teve desvalorização recorde e a inflação foi a 54%, nos últimos 12 meses.
- Houve fechamento de mais de 6 mil pequenas e médias empresas e uma das maiores quedas na produção industrial do país. Ao mesmo tempo, o governo promoveu a isenção total de impostos para setores concentrados da economia, como o do agronegócio e o da mineração.
O resultado na vida do povo argentino é o aumento do desemprego e da pobreza, com a maior queda no consumo que o país já registrou.
Um desastre absoluto que travou o país, elevando seu endividamento externo também a níveis recordes, promovendo fuga de capitais, e fazendo o país perder totalmente o acesso a crédito no exterior.
Nessas condições, o presidente recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI), de forma submissa e maléfica para os argentinos, pois o próprio Fundo é promotor de uma fuga recorde de dólares da Argentina, além de exigir contrapartidas políticas de “ajustes” duríssimas, ou seja, um enorme ataque contra os trabalhadores.
Para blindar-se, Mauricio Macri promoveu interferência direta no Poder Judiciário, contando com o apoio do Grupo Clarín (a “Globo argentina”) e de jornalistas amigos. Isso soma-se a operações de inteligência, chantagens, ameaças e extorsões a juízes considerados “inimigos” do governo.
É isso que o Brasil deve esperar de Bolsonaro, que continua com a política de destruição do país iniciada por Michel Temer, uma cópia daquela de Macri, e os golpistas que tomaram o poder em 2016. Assim como a Argentina, porém, nenhum país aguenta isso, por mais rico que seja. O Brasil não aguenta quatro anos de política neoliberal, Bolsonaro não sobreviverá, assim como Macri, a esse tipo de política. A violência e o uso do Estado para tentar conter os sindicatos, a oposição, os movimentos sociais, tem um limite, assim como a paciência do povo é limitada.
Os argentinos querem seu país de volta e devem tomá-lo, nas ruas. No Brasil, se mantivermos as mobilizações e abandonarmos as ilusões de que haverá uma saída institucional para o golpe, o povo também vai tomar o País de volta.
Fora Bolsonaro, fora toda política neoliberal, fora todos os golpistas. Rumo à greve Geral, novas eleições já. Lula Livre e candidato.