O debate em torno da defesa ou não da política de isolamento social e quarentena vem perdendo força entre os partidos da direita e a imprensa burguesa. Antes de explicar o porquê, é preciso fazer a ressalva de que essa diferença nunca passou de propaganda. A ala da direita golpista tradicional representada pelos governadores defende a quarentena apenas como uma única medida, quando na realidade não existe nenhuma política efetiva contra a pandemia.
Bolsonaro, com sua campanha contra o isolamento, apenas estava seguindo os interesses de sua base social de empresários que temem os prejuízos com a quarentena.
Os governadores da direita defensores da quarentena, além da propaganda, têm como objetivo organizar o caos que será inevitável com a pandemia. Grosso modo, é fazer com as pessoas morram em casa, evitando ao máximo a revolta que causará a superlotação dos leitos dos hospitais. Além disso, essa política de quarentena nunca serviu para a maior parte da população, que ainda está sendo obrigada a trabalhar nas fábricas, supermercados, construção civil, transporte etc.
Essa diferença, aparente na questão da quarentena, simplesmente não existe no que diz respeito às políticas de ataques aos trabalhadores. A direita de conjunto vem avançando sobre os direitos do povo. Um exemplo mais recente foi a aprovação da Medida Provisória que diminui salários, acaba com o 13º, institui a negociação individual trabalhador patrão, em suma, um gigantesco confisco das condições de vida da população.
No meio disso tudo, Bolsonaro participou da manifestação da extrema-direita no domingo, que pedia o golpe militar. A direita tradicional tratou de criticar o presidente golpista fazendo demagogia em defesa da democracia. De nenhuma forma essa direita defende a queda de Bolsonaro, mas mantém a política de coloca-lo na linha.
Está claro pela política da burguesia que já há uma unidade sobre a necessidade de acabar com a quarentena, quando muito mantendo apenas como propaganda. Os grandes capitalistas já perceberam que não terão condições de manter essa política e irão tomar a decisão de deixar a população exposta à doença. Ou seja, acabou até mesmo a divergência superficial que se abriu sobre a questão do isolamento social.
A esquerda pequeno-burguesa, que embarcou na política da ala da direita que dizia ser civilizada e científica, vai cair no vazio completo. Aqueles que foram eleitos heróis do povo, como Doria e Witzel, mostram aquilo que sempre foram: elementos da extrema-direita.
Enquanto a direita ataca os trabalhadores, a esquerda continua escondida em casa e se alterna entre defender acriticamente a política de isolamento social como desculpa para não mobilizar e a defesa da união nacional com a direita civilizada. Fica cada vez mais claro que essa esquerda caiu numa armadilha política cujo resultado foi levar os trabalhadores a reboque da direita. Um verdadeiro crime contra o povo.