No artigo “A pior direita: Bolsonaro quer ser Piñera, mas é um Hugo Chávez de sinal trocado”, publicado no sítio The Intercept Brasil, o repórter Lucas Berti escreve um longo artigo atacando Chaves e Maduro, presidentes venezuelanos, e tentando de todas as formas igualá-los ao fascista Jair Bolsonaro.
As comparações são completamente descabidas e não possui nenhum argumento próximo da realidade. O texto começa com ataques contra Nicolas Maduro na cerimonia de posse de Bolsonaro. “Só mesmo o radicalismo de Bolsonaro seria classificado como extremista por um político como Maduro, também guiado por uma pauta ideológica agressiva”, diz o texto em referência a frase de Maduro dizendo que Bolsonaro era um extremista. Apresenta os extremos como dois lados da mesma moeda. O autor esquece que a principal diferença é que um defende os interesses do povo venezuelano e o outro defende os interesses de países acostumados em explorar e oprimir outros países, como os EUA.
Em um dos pontos, diz que “Bolsonaro é uma cópia desajeitada, liberalesca e à direita de uma figura de esquerda: Hugo Chávez. São militares, ex-paraquedistas, anti-imprensa, anticiência, autoritários, homofóbicos, misóginos, populistas, nacionalistas. Apresentaram-se como alternativas antissistema, são contra o multilateralismo, devotos de causas religiosas, pautados por conspirações, apelam a um “perigo estrangeiro”, invocam pautas ideológicas e referem-se aos EUA o tempo todo”.
Em primeiro lugar a comparação sobre o caso de os dois serem militares é simplista e até infantil. Hugo Cháves, apesar de ser militar e apoiado por setores militares, não tem a mesma base que Bolsonaro tem dentro das Forças Armadas Brasileiras. Cháves nunca contou com o apoio da cúpula das Forças Armadas Venezuelanas e sim da grande maioria de soldados, tanto que quando eleito presidente sofreu um golpe liderado por empresários e a alta cúpula das Forças Armadas, o contrário de Bolsonaro que se apóia nessa alta cúpula.
Sobre o “perigo estrangeiro” há outra completa dissimulação. Dizer que Hugo Cháves e Maduro apelam ao perigo estrangeiro como Bolsonaro e não mencionar, talvez de maneira intencional, a possibilidade de intervenção dos EUA na Venezuela e nas questões internas é um enorme desserviço a qualquer movimento progressista de países explorados.
De maneira vil, chega a comparar nas questões de ciência e universidade. “Chávez também atacou a educação, cercando universidades autônomas com o aparelhamento do acesso ao ensino” e “seu conteúdo e Como consequência da crise que afeta o ensino e a ciência, a migração venezuelana, que já supera os 3 milhões, acarreta em uma fuga de cérebros.” A Venezuela, apesar da crise impulsionada pelo bloqueio econômico, criou milhares de vagas em universidades enquanto Bolsonaro vai no sentido contrário. A “fuga de cérebros” se dá devido a classe média querer sair do país com a crise econômica, como médicos, advogados e outros profissionais liberais acostumados com as migalhas da burguesia.
O Chavismo é um representante legitimo da população e amplamente apoiado pelos trabalhadores, que levaram a diversas eleições e constituintes, já Bolsonaro não tem nenhum apoio popular e está na presidência de maneira fraudulenta através da prisão do principal líder do país e a um golpe de Estado em 2016 que levou a direita a presidência.
Toda a situação política dos países e, principalmente, tentativas de intervenção na Venezuela e nas ruas riquezas naturais e o capachismo de Bolsonaro em relação aos países imperialistas é completamente ignorado.
O autor se baseia nos argumentos da defesa da democracia e de ataques aos governos chavistas da Venezuela com critérios colocados pela imprensa capitalista. É a democracia abstrata apresentada pela Rede Globo no Brasil e pelo canal que deu o golpe em Hugo Chaves em 2002, a RCTV, que o autor defende com unhas e dentes.
Além de muitas comparações esdrúxulas e de argumentos infantis, o importante da matéria é um esforço em defender a tal da democracia. A política que tem como critério a democracia de maneira abstrata, como está no artigo do The Intercept, leva a uma série de conclusões absurdas e com posições que favorecem o imperialismo em detrimento da população explorada.
Este artigo mostra que a esquerda deve ser o caminho da direita golpista e que os trabalhadores devem ficar a reboque do imperialismo por pautas sem nenhum fundamento e colocadas pela imprensa capitalista.