Sábado (30), o vice-presidente derrubado pelos militares na Bolívia, Álvaro García Linera, denunciou que a extrema-direita golpista deu malas de dinheiro para corromper oficiais da polícia e das Forças Armadas. Linera denunciou que Fernando Camacho, do comitê cívico de Santa Cruz, comprou os militares para levarem o golpe adiante. Evo Morales renunciou à presidência da Bolívia forçado pelos militares no dia 10 de novembro, um domingo, depois que o chefe das Forças Armadas, Williams Kaliman, fez um pronunciamento à nação “sugerindo” que ele renunciasse. Naquele mesmo fim de semana, a polícia se amotinou contra o governo, ajudando nos ataques da extrema-direita contra apoiadores do governo.
A participação de militares no golpe, portanto, foi decisiva, em uma campanha golpista relâmpago, que começou 20 dias antes da queda do governo, logo depois de Evo Morales ser eleito pela quarta vez para governar o país, em 20 de outubro. Imediatamente o candidato derrotado, Carlos Mesa, não reconheceu o resultado eleitoral, acusou o governo de fraude e começou a convocar manifestações pelo país.
No caso da Bolívia aconteceu o mesmo que no Brasil, mas em uma velocidade muito mais rápida. Em um primeiro momento, Mesa, que seria o equivalente de Aécio Neves no golpe boliviano, um membro da direita tradicional dentro do regime político, desencadeou o movimento golpista. Posteriormente, com a polarização colocada pelo golpe, a extrema-direita assumiu a dianteira do processo golpista, sob a liderança de Camacho. O Bolsonaro da história seria o Camacho, e a capitalização pela extrema-direita do golpismo da direita tradicional deu-se em 20 dias.
Portanto, outras características do golpe boliviano ajudam a esclarecer o golpe no Brasil. A participação dos militares no governo, sob Bolsonaro, é enorme. E o fechamento do regime na Bolívia apresenta uma perspectiva sombria para a luta contra o golpe no Brasil. Por outro lado, para que a situação chegasse a esse ponto na Bolívia, foi necessário uma sequência inacreditável de capitulações da esquerda. É possível evitar esse desfecho no Brasil enfrentando a direita golpista, aproveitando o fato de que há uma tendência à mobilização contra o governo, a direita e o golpe.
De modo que agora, vendo o nível a que a repressão pode chegar pelo exemplo da Bolívia, é preciso redobrar os esforços em torno de uma campanha pela derrubada do governo, com a palavra de ordem Fora Bolsonaro!