A esquerda pequeno-burguesa acumula uma série de capitulações políticas diante da direita cujo conteúdo fundamental é sua política eleitoral. A lógica funciona da seguinte forma: diante de um ataque da direita, que derrubou o governo, que prendeu Lula e retirou ilegalmente seus direitos políticos, que fraudou as eleições, que articula uma sistemática campanha de calúnias contra a esquerda na imprensa, a esquerda difunde a ideia de que tudo será resolvido pelas eleições.
Basta acreditar e ter esperanças na eleições burguesas e na “democracia”, ainda que tanto uma quanto a outra estejam devastadas pela intervenção da direita.
Essa política de crença infantil e doentia nas instituições burguesas foi reforçada momentaneamente pela libertação de Lula. Os elementos mais direitistas da esquerda apressaram em tentar convencer o povo, que vem lutando contra o golpe há anos, de que o que soltou Lula foi o STF, como se o Supremo tivesse se transformado, de uma hora para outra, no maior “defensor da democracia”. Alguns comentários, como a coluna de Haddad na Folha de S. Paulo afirmaram isto.
Essa ideia logicamente serve aos interesses da política eleitoral. “Vamos acreditar e esperar até 2020, 2022”, dizem os elementos da esquerda pequeno-burguesa cuja única coisa que conseguem enxergar à sua frente é a possibilidade de um cargo eleitoral.
Mas a realidade foi implacável novamente com os defensores da política eleitoral. No dia seguinte à grande manifestação em comemoração à soltura de Lula, o golpe militar na Bolívia caiu como um balde de água fria nas pretensões eleitoreiras.
Evo Morales venceu as eleições com boa margem de diferença para o representante da direita, Carlos Mesa. A direita não reconheceu o resultado, acusou de fraude, a OEA imperialista interveio, o País se desestabilizou, Evo capitulou e aceitou chamar novas eleições e a direita deu o golpe militar.
Evo está exilado no México e o povo tenta derrotar o golpe nas ruas, enfrentando a violência das Forças Armadas. A eleição e a crença de que as instituições dariam um jeito na situação não frearam a direita, pelo contrário, foi essa política que favoreceu a ofensiva golpista.
O caso da Bolívia é importante pois serve como um aviso para os que creem nas eleições. Esperar 2022 é entregar o povo nas mãos dos golpistas. É dar espaço para que a direita avance e obtenha mais controle sobre as instituições e as próprias eleições. E caso cheguemos até lá, conforme vimos na Bolívia, uma vitória eleitoral não garante nada.
A direita mostrou que não está disposta a ceder. Sua política continua sendo, em todos os países da América Latina, o enfrentamento com as massas. A única solução para isso só pode ser uma política que oriente as massas para esse enfrentamento, que coloque na ordem do dia a derrubada dos golpistas e de todo o regime.