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Eleições na Bolívia

Bolivia: Não é campo vs cidade, é o povo contra o imperialismo

A questão central é a defesa dos interesses do povo contra o imperialismo

O jornalista Leonardo Sakamoto abriu espaço em seu blog, na edição do dia 30 de outubro, para a publicação de um artigo de autoria da também jornalista Sue Iamamoto, formada na USP, onde atualmente exerce as funções de professora no Departamento de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia. O artigo tece considerações acerca do recente processo eleitoral boliviano, onde a jornalista e docente busca oferecer algumas explicações sobre os fatos ocorridos no país altiplano, assim como hipóteses para um desdobramento com vistas a solucionar o impasse causado pela tentativa de anulação das eleições, sustentada por uma suposta denúncia de fraude levada adiante pela oposição direitista e pró-imperialista, derrotada mais uma vez pelo voto que sufragou o candidato popular Evo Morales para mais um mandato.

Na publicação da professora Iamamoto chama a atenção inicialmente a tentativa de estabelecer um confronto (inexistente) entre o campo e a cidade, buscando colocar em relevo a ideia de que o MAS (Movimento ao Socialismo), partido do presidente Evo Morales, desfrutasse de um amplo apoio no campo, junto às massas camponesas e os indígenas, o que não ocorreria nas cidades, nos centos urbanos, onde prevaleceria o apoio e o voto no candidato da “oposição” direitista e pró-imperialista, Carlos Mesa. No entanto, ante a uma análise mais rigorosa, não superficial, vemos que a tese não se sustenta. Morales tem sim o amplo apoio das massas pauperizadas do campo, os camponeses e demais camadas exploradas que sobrevivem das atividades agrícolas não industriais. Mas é igualmente verdade também que o candidato do MAS teve amplo apoio e recebeu o voto também dos setores organizados da classe operária boliviana, os mineiros e outros trabalhadores da atividades industrial dos centros urbanos, como La Paz e Cochabamba.

A “derrota” de Evo Morales nas cidades e centros urbanos – isso precisa ser compreendido – não se deve ao apoio consciente da população, ou de uma parte desta, ao programa neoliberal do candidato do imperialismo, mas fundamentalmente ao controle que as forças direitistas, reacionárias, exercem sobre o conjunto da população ali nestas localidades; aos elementos de pressão e às enormes outras situações de contexto que influenciam e condicionam o voto em uma eleição marcada pela disputa de duas forças e perspectivas antagônicas, vale dizer, de um lado o representante das camadas populares e exploradas do país (com todas as limitações programáticas que essa candidatura traz) e de outro, o candidato apoiado por todos os mais retrógrados e direitistas setores do país, com amplo apoio do empresariado, da burguesia latifundiária, industrial, e principalmente, como elemento determinante maior, o imperialismo ianque e também europeu, pois a União Européia também se soma, neste momento, aos que sustentam a ideia de fraude eleitoral, que é o argumento da direita reacionária, mais uma vez derrotada no pleito eleitoral. Esse mesmo quadro se apresentou nas eleições brasileiras de 2018, no segundo turno, onde o candidato do campo intitulado “progressista”, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, recebeu o voto da população interiorana do Nordeste e foi derrotado nas capitais da região. É falso, todavia, a partir destes elementos, inferir que Haddad seria então o candidato do interior, enquanto o candidato da extrema direita, à época, Jair Bolsonaro, teria a preferência do eleitorado das cidades, das capitais do Nordeste e de outras regiões. Aqui se repete o mesmo fenômeno boliviano, guardadas, obviamente, as peculiaridades inerentes a cada processo. Bolsonaro derrotou Haddad justamente pelo controle que o processo em seu conjunto exerce sobre o voto do eleitorado; pela enorme pressão exercida pela poderosa máquina de guerra que a burguesia coloca em movimento quando se trata da defesa dos seus interesses.

Um outro elemento que merece destaque é o fato de que não há antagonismo entre os interesses e as reivindicações das massas agrárias, do campo, o imenso contingente de camponeses bolivianos que votaram maciçamente em Evo Morales e os trabalhadores dos centros urbanos, os mineiros em particular e o proletariado que tem atividades laborais ligadas ao setor petroquímico do país. Fundamentalmente, as reivindicações, demandas e interesses são os mesmos, se vemos o problema de um ponto de vista de uma perspectiva maior, de classe, de luta contra o inimigo maior, o imperialismo e seus representantes nativos.

Um outro aspecto que vem chamando a atenção no pleito eleitoral boliviano diz respeito ao posicionamento dos organismo internacionais. A OEA, uma agência que está alinhada com a defesa da estratégia intervencionista/golpista do imperialismo para a região, se colocou ao lado do candidato da direita, Carlos Mesa, questionando a vitória de Morales, com acusações de fraude eleitoral e se colocando no terreno da recontagem dos votos, assumindo, abertamente, uma posição golpista, a mesma defendida por toda a direita reacionária do continente.

O fato é que não só a população da Bolívia, mas também de outros de países do continente (Chile, Uruguai, Equador, Argentina, Haiti, na região do Caribe) entraram em rota de colisão aberta com a política do imperialismo implementada pelos governos fantoches da Casa Branca, colocando em xeque não somente o receituário econômico neoliberal, mas toda a estrutura carcomida e apodrecida dos regimes ditos “democráticos” da região, que, em sua essência, nada mais são do que uma pálida caricatura de democracia, onde sobrevivem todos os principais elementos das ditaduras sanguinárias e assassinas que predominaram no continente nas décadas de sessenta e setenta.

O desfecho para o impasse vivenciado pela tentativa de golpe da direita na Bolívia passa, necessariamente, pela mobilização das massas populares e demais camadas exploradas do país, única forma de assegurar a legitimidade do resultado eleitoral que garantiu mais um mandato para o presidente Evo Morales.

 

 

 

 

 

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