Nesta última quarta-feira (23), Evo Morales anunciou ao povo da Bolívia que há um golpe de Estado em andamento, frente ao resultado das últimas eleições que o elegeu para um novo mandato presidencial, resultado que contraria frontalmente os interesses da direita boliviana e do imperialismo, principalmente dos Estados Unidos.
Em um pronunciamento no Palácio Presidencial, Evo Morales denunciou o golpe:
“Convoquei esta conferência para denunciar perante o povo boliviano e o mundo inteiro que está em processo um golpe de Estado. Já sabíamos antecipadamente, a direita se preparou com apoio internacional. Quero que o povo boliviano saiba que até agora humildemente aguentamos, suportamos para evitar a violência e não entramos em confronto, e nunca vamos entrar em confronto, mas quero dizer ao povo boliviano: primeiro, estado de emergência e mobilização pacífica e constitucional.”
A direita boliviana usa como pretexto uma interrupção da transmissão das apurações preliminares, usando esta situação para questionar o resultado das eleições, ainda que as urnas simplesmente demonstraram o que os resultados preliminares já apontavam: a vitória de Morales, no primeiro turno, ainda que por pequena margem de votos.
Mas para a direita boliviana e para o imperialismo, qualquer situação justificaria colocar em questão a eleição de um candidato que não está de acordo com os seus interesses.
Da mesma forma que Aécio Neves, em 2014, Mesa chamou de “fraude escandalosa” o pleito.
E o imperialismo logo endossou. Tanto a União Europeia como os Estados Unidos criticaram as eleições bolivianas, que não foram consideradas “transparentes”.
A OEA foi mais longe: exigiu uma auditoria nas eleições e quer que as suas conclusões sejam “vinculantes”, ou seja, quer que a Bolívia simplesmente aceite que o resultado de suas eleições seja decidido por um órgão externo.
Trata-se de uma situação em tudo semelhante ao que vivemos no Brasil em 2014, quando o povo conseguiu furar a barreira imposta pela burguesia e pelo imperialismo e elegeu Dilma presidenta, contrariando os interesses dos golpistas, e que prova que o golpismo da direita latino-americana é um projeto articulado pelo imperialismo contra todo o sub-continente.
Conforme o povo brasileiro já sabe, Evo Morales poderá esperar tempos de grande turbulência em seu mandato, e até mesmo a tomada de posse será um enorme desafio para a esquerda da Bolívia.
Não pode haver nenhuma hesitação das lideranças populares da Bolívia: denunciar o golpe e chamar o povo à mobilização é a única saída viável.
Morales, que já chama o povo da Bolívia para “se organizar e se preparar” não poderá repetir os erros de outras lideranças de esquerda da América Latina, confiando no Estado burguês, nem através da Justiça nem do Parlamento.
Terá que mostrar nas ruas a força de seu governo, de fato preparando e organizando as massas para a luta, pois só assim poderá empurrar os golpistas para bem longe dos destinos da Bolívia.