No dia 10 de novembro de 2019, o imperialismo conseguiu derrubar mais um governo nacionalista na América Latina: o governo Evo Morales, da Bolívia. Após uma série de investidas da direita boliviana, as Forças Armadas exigiram a saída de Morales da presidência. Morales acabou renunciando, sendo seguido pelo seu vice, pelo presidente do Senado, pelo presidente da Câmara dos Deputados e por outros membros de seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS).
Embora Evo Morales tenha renunciado, a pressão feita pela direita e pelas Forças Armadas não deixa dúvidas que o que aconteceu na Bolívia foi um golpe militar. A operação realizada pela direita faz parte de uma ofensiva do imperialismo no continente, que já destituíram os governos do Paraguai (2012), Honduras (2009), Brasil (2016), entre outros. O capitalismo se encontra em uma crise profunda, de modo que a direita está procurando estabelecer, em todo o mundo, governo que esteja completamente alinhados aos interesses dos bancos.
Para barrar a ofensiva golpista sobre a América Latina, há apenas uma única política: a da mobilização revolucionária dos trabalhadores, que são os únicos interessados em enfrentar a burguesia até as últimas consequências. O enfrentamento, ao exemplo do que vem acontecendo no Chile, é a única maneira de fazer com que a burguesia se sinta acuada e, portanto, ceda às reivindicações dos trabalhadores.
A política da mobilização para o enfrentamento, no entanto, não foi a que o governo Morales escolheu para impedir que a direita derrubasse seu governo. Evo Morales, diante de pouco mais que duas semanas de protestos artificiais orquestrados pela extrema-direita boliviana, cedeu à pressão do imperialismo e permitiu que a Organização dos Estados Americanos (OEA), diretamente controlada pela burguesia mundial, tutelasse as eleições bolivianas, que reelegeram o líder popular para seu quarto mandato.
No domingo (10), quando a OEA declarou que houve fraude nas últimas eleições presidenciais, Evo Morales capitulou novamente e anunciou que seriam realizada novas eleições. Ao perceber que Evo Morales não estava procurando enfrentar a direita, e sim um acordo, as Forças Armadas o pressionaram para que renunciasse. Um acordo, nesta altura dos acontecimentos, seria impossível, pois não há como conciliar o interesse da burguesia de saquear o povo boliviano e o interesse dos trabalhadores em ter condições dignas de existência. O único acordo possível entre Morales e a burguesia seria um acordo que submetesse aquele humilhantemente a esta, o que, na prática, não é um acordo, mas sim um tratado de rendição.
A política conciliadora de Evo Morales, que é a mesma política da esquerda pequeno-burguesa em toda a América Latina, que não quer derrubar o governo Bolsonaro, nem quis derrubar o governo Macri e se posiciona de maneira “neutra” em relação à Venezuela, na medida em que é uma política que dificulta a mobilização, acabou por permitir que a extrema-direita avançasse nas ruas. A situação tomou tamanha proporção que Evo Morales se viu obrigado a sair do país do qual era presidente até pouco tempo.
Hoje, exilado no México, Evo Morales fala em “resistir”. A política da resistência, apontada por Morales, é, no entanto, a mesma política de resistência que vem sendo aplicada pela esquerda pequeno-burguesa no Brasil: uma política destinada ao fracasso. “Resistir” ao governo Bolsonaro, e não atacá-lo, tem feito com que a burguesia permaneça com o controle do regime político em suas mãos. Se a crise do governo não fosse tão grande, a direita já teria partido para uma ofensiva brutal sobre os trabalhadores, visto que não está sendo confrontada com uma mobilização que coloque a luta pelo poder político no centro da discussão.
Ao mesmo tempo em que fala em “resistir”, Evo Morales declarou que renunciou para evitar um derramamento de sangue e que esperava que seus opositores, os fascistas Carlos Mesa e Luis Fernando Camacho, assumam o papel de pacificar o país. A resistência seria, portanto, contestar e denunciar a ofensiva golpista, mas não partir para cima da direita para impedir que ela avance.
A única maneira de evitar que o sangue dos trabalhadores bolivianos seja derramado copiosamente e de fazer com que o povo resista de fato à pressão do imperialismo é por meio de um grande enfrentamento das massas com a burguesia. É preciso sair às ruas e reagir à altura todas as provocações da direita, combatendo nas ruas desde a extrema-direita religiosa às Forças Armadas golpistas. Não ao golpe militar na Bolívia! Fora imperialismo da América Latina!