Durante toda a terça-feira (19), a Bolívia teve 71 bloqueios de estradas pelo país. Em La Paz foram bloqueadas as estradas que ligam a cidade a Oruro e a Cochabamba, as principais estradas saindo da capital. Ao todo, havia 18 bloqueios em volta da cidade. Na estrada que leva à cidade turística de Copacabana, à beira do lago Titicaca, havia pontos de protesto ao longo de todo o trajeto. Esses bloqueios e protestos pararam o país contra o golpe da direita, consumado com a renúncia forçada de Evo Morales no dia 10.
Os bloqueios seguiam deliberação de uma assembleia ocorrida no sábado, em que movimentos de camponeses, que foram a La Paz de todos os departamentos, e trabalhadores da capital, decidiram bloquear estradas e parar o país até que a golpista Jeanine Áñez renuncie. Áñez assumiu a presidência de forma ilegítima em uma sessão esvaziada do Congresso.
Em Cochabamba, celeiro da Bolívia e reduto político de Evo Morales, que começou sua carreira política como sindicalista cocaleiro, liderando os camponeses da região dos trópicos, foram bloqueadas as estradas de acesso a Oruro, Potosí e à capital La Paz. As vias de acesso a Santa Cruz também têm bloqueios em diversos pontos, de modo que a cidade ficou isolada. Mesmo em Santa Cruz, de onde a extrema-direita lançou seus ataques contra o governo Evo Morales, procurando explorar uma divisão regional estimuladas pelo imperialismo, há sete pontos de bloqueios em estradas, mostrando que a polarização contra o golpe é nacional.
Situação de guerra civil
A golpista Áñez chegou a cancelar uma viagem na terça-feira, alegando ameaças de morte. A direita golpista tem tentado esmagar a população por meio de uma repressão brutal. Na última sexta-feira (15), nove camponeses foram assassinados em Cochabamba, mortos pela polícia e pelos militares quando tentavam marchar até o centro da cidade. A direita golpista já mostrou que não pretende recuar depois de dar o golpe, mas os trabalhadores bolivianos também não saem nas ruas, o que coloca uma situação de confronto e polarização na sociedade boliviana.
A situação boliviana é exemplar para o Brasil e para a América Latina. O golpe na Bolívia foi uma versão rápida do golpe no Brasil. A direita golpista levou anos para derrubar Dilma Rousseff, Evo Morales caiu depois de 20 dias. O que acontece agora no país vizinho é um fator que pode impulsionar desdobramentos da luta contra os golpes no Brasil e em toda a América Latina. Isso serve de alerta para os trabalhadores brasileiros, mostra o perigo que a direita golpista representa e a necessidade de lutar pela derrubada desse governo atual. é preciso aproveitar a impopularidade de Jair Bolsonaro e a tendência à mobilização para protestar pelo fim do governo, levantando a palavra de ordem mais popular das ruas: Fora Bolsonaro!