O golpe de Estado na Bolívia continua. Domingo (10), os militares saíram das sombras e revelaram seu papel decisivo nas conspirações contra o povo boliviano. Depois de Evo Morales capitular convocando novas eleições, o chefe das Forças Armadas bolivianas, Williams Kaliman, fez um pronunciamento público pedindo ao presidente que renunciasse. O presidente, que ainda tinha mandato até 20 de janeiro e havia sido reeleito menos de um mês atrás, em 20 de outubro, renunciou. Renunciaram também o vice-presidente, García Linera, e a presidente do Senado, Adriana Salvatierra, que assumiria a presidência com a renúncia de Evo e seu vice.
Jeanine Añez assume a presidência
Nesse quadro de vazio de poder, a direita golpista, que forçou todas essas renúncias com violência e ameaças, como no caso da casa da irmã de Evo Morales, saqueada e incendiada, começa a inventar uma solução com ares de legitimidade institucional para concluir o golpe. Na segunda-feira (11), a segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Añez, foi até o Senado, em La Paz, para assumir a presidência da casa. A golpista afirmou que as cartas de renúncia serão analisadas em sessão na terça-feira (12), e que em seguida serão convocadas novas eleições.
Eleições com “personalidades probas”
No entanto, Añez já deu a dica de que as eleições não serão de fato eleições, em que o povo escolhe entre os candidatos que quiser. As eleições terão os candidatos que a direita golpista permitir. “Vamos chamar eleições com personalidades probas”, disse a senadora ao falar com a imprensa. Obviamente, quem vai decidir sobre a “probidade” dos candidatos serão os setores que derrubaram Evo Morales, eleito com quase metade dos votos do país há menos de um mês.
Camacho quer prender Evo Morales
Evo Morales, por exemplo, não poderia participar. Durante a segunda-feira o presidente derrubado chegou a dizer que um policial com uma ordem de prisão ilegal foi buscá-lo onde ele estava. Posteriormente, o comandante da polícia boliviana, Yuri Calderón, negou que houvesse tal pedido. Horas depois, o mesmo Calderón renunciou ao cargo, a pedido do Exército.
Ainda no domingo, o líder do Comitê Cívico de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, principal figura publicamente a frente do golpe desde as eleições no dia 20, disse que entraria com processos contra Evo Morales, seu vice-presidente e todos os ministros e governadores ligados ao governo. Ou seja, dando um aviso de que a perseguição política dos golpistas contra o governo anterior e seus apoiadores será implacável.
Eleições só com a direita
Portanto, fica claro o que são as eleições com “personalidade probas” a que se refere Añez. A direita golpista, depois de derrubar um governo recém eleito, vai perseguir seus adversários e realizar uma votação absolutamente farsesca para tentar legitimar o próximo governo e estabilizar a situação política, que despencou para uma crise completa com a campanha para derrubar Evo Morales. Apesar das capitulações seguidas do governo de Evo Morales, ainda há mobilização contra o golpe na Bolívia, e a situação ainda não está definida a favor dos golpistas.