Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Muita fé e pouca razão

Boff defende Frente Ampla com os golpistas

Luiz Alberto Gomez de Souza, com uma visão romântica, acredita na construção de uma frente ampla composta pela esquerda e golpistas.

Leonardo Boff, um personagem próximo do presidente Lula e do PT, reproduziu um artigo de Luiz Alberto Gomez de Souza, um cientista social[1], católico,  trabalhou com Dom Helder Câmara, amigo de Frei Beto, viveu e atuou no Brasil, no Chile, no México, na França e na Itália, influenciado pela teologia da libertação, membro do Movimento Fé e Política.

O artigo compartilhado por Leonardo Boff e portanto de longo alcance para os simpatizantes do teólogo, tem o título de “Uma Frente ampla é indispensável, quando uma ultradireita destrói o país”.

O autor aponta corretamente que o fascismo bate a porta e a censura e perseguição de ‘adversários’ políticos, de ‘opositores’, de ‘comunistas’, no atual governo de extrema-direita é semelhante a outros, assim como Bolsonaro poderia ser comparado com líderes de posição autoritária mundo afora, como Salvini na Itália ou Orban na Hungria.

Ele chama a atenção para o que considera uma cegueira recorrente quanto aos sinais de que o ‘ovo da serpente’ (fascismo) estaria sendo chocado, levando a que não se reaja em tempo aos sinais de intolerância, violência, perseguição, claramente presentes no horizonte.

Assinala que, no entanto, já se estariam fazendo presentes manifestações e tomadas de posições em face do avanço do governo Bolsonaro, e dos que o apoiam, para um estado de exceção. Até mesmo conservadores, segundo ele teriam se dado conta do perigo para a democracia se nada for feito para conter o presidente e seus aliados.

No entanto, para ele, ‘uma posição agressiva e meramente reativa diante deles, é entrar na sua lógica e cair numa luta semelhante a eles, apenas com o sinal trocado’, ou seja, para o pensador católico, assumindo a teoria da ferradura, reações aos fascistas tornariam os anti-fascistas iguais aos que combatem.

Afirma que dever-se-ia, até, fazer uma espécie de ‘greve de silêncio diante dos destemperos diários do ex-capitão’. Para não se ficar em uma posição meramente defensiva, ele sugere que a criação de uma ampla frente, que aglutine as ‘forças democráticas’, deveria ser tarefa urgente.

Fala em diálogo plural para, posteriormente, se construir aos poucos propostas e programas comuns para reerguer a nação e ser alternativa concreta de poder.

Não explica, no entanto, quem comporia essas ‘forças democráticas’ e nem o sentido do que chama de ‘diálogo plural’. Tampouco, considera que muitos que se apresentam como ‘democratas’ hoje articularam um golpe em 2016 (e muitas vezes antes) que depôs uma presidenta eleita legitimamente, dando início ao desprezo pela democracia que vivemos hoje.

Ao citar Noam Chomsky, que teria afirmado que a esquerda brasileira estaria desordenada, apática, assume a chamada que o PSDB e o DEM, entre outros partidos golpistas, têm feito para a criação de uma frente democrática, escondida sob o nome de Direitos Já.

Para ser justo, Gomez de Souza vê sinais de formação dessa frente ampla em vários lugares além do Direitos Já, com os movimentos e encontros entre Haddad, Boulos, Flavio Dino, Tarso Genro, Luiza Erundina entre outros.

Apesar do esforço que Ciro Gomes têm feito para criar uma frente sem o partido dos trabalhadores, o autor acha que ele deve ser incluído e que todos são chamados, nesse momento escuro da história do país, para lutar pela civilização.

Um tom entre religioso e romântico, o autor considera manter utopias no horizonte, quiçá uma imagem do reino de deus. Sonha que o momento, tão negativo, possa ser uma oportunidade para se desenhar o tão sonhado “outro mundo possível”, fruto de uma opção civilizatória, inevitável diante do risco fascista que representaria o atual governo Bolsonaro.

É necessário, de fato, muita boa vontade e uma fé enorme na transformação (quase) religiosa de atores como Ciro Gomes e Marina Silva, para não falarmos de um Fernando Henrique Cardoso, que deliberadamente ou apoiaram o golpe de 2016 ou se posicionaram de forma dúbia, acreditando lucrar politicamente com o antipetismo.

Uma frente ampla com Ciro, Marina, Fernando Henrique Cardoso, com o DEM, PSD, PMDB, PPS et caterva, levaria inevitavelmente à negação do Golpe de 2016 e ao fim da luta contra o golpe.

Esses elementos estão profundamente alinhados com a burguesia, são seus representantes, eles são os verdadeiros responsáveis pela, usando palavras dos mesmos, quebra da ‘normalidade democrática’. São criadores e fiadores de Bolsonaro e do fascismo que aflora no país, porque esse caminho foi uma escolha da burguesia nacional e internacional.

No final das contas, o autor parece mais um incentivador da auto-ajuda e um pregador religioso, nos convocando a manter a esperança e a agir em defesa de um projeto novo para o país, em oposição ao projeto de barbárie que o governo de extrema-direita colocou em curso.

Não explica como manter a esperança dos desempregados, do trabalhador ameaçado de demissão e de perder sua aposentadoria, o acesso aos serviços de saúde, educação pública, vendo seus filhos assassinados pela polícia, com a violência batendo à porta todos os dias, noite e dia.

Faz um chamado para que ‘pensemos grande’, ou seja, que deixemos as diferenças ideológicas de lado e façamos uma espécie de grande ciranda juntos, de mãos dadas, contra o monstro que ameaça devorar a todos nós. Ou seja, ingenuamente, esquece que a burguesia, em momentos de crise como o que vivemos agora, sempre propõe frentes amplas, pois sabe que a polarização tende a reforçar as esquerdas. Vale-se das frentes para dissimuladamente manter ou retomar o controle, o poder.

Não é hora de compor com golpistas, que temem não sobreviver à crise que ajudaram a alimentar. A esquerda não ganha nada nesse momento unindo-se com aqueles que fizeram de tudo para destruí-la. Rezar junto dos golpistas é pedir para ser novamente golpeado, provavelmente com um golpe fatal.

 


NOTA:

[1] Formado em Ciências Jurídicas e Sociais, pós-graduado em Ciência Política, doutor em Sociologia.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.