Em situações extremas como uma guerra ou mesmo alguma calamidade natural como uma enchente ou casos como uma epidemia grave, as classes dominantes procuram fomentar a noção de que é necessário a “salvação nacional” através da “união de todos”.
Trata-se de uma falácia interesseira, em que os principais responsáveis pelo respectivo problema (que demanda a pretensa unidade a todo custo) incute a visão de que críticas e divergências não são construtivas. Isso visa primordialmente evitar uma contestação das posições dos setores dominantes que continuam drenando os recursos do país.
A campanha de que é preciso a construção de uma “Frente Ampla” como uma espécie de salvação nacional e de “juntos TODOS venceremos o bolsonarismo” alimentada por setores da esquerda, em especial pelo PCdoB tem no fundo a mesma concepção demagógica da “ união nacional”.
O comportamento agressivo e queda da popularidade do presidente estimularam a disputa entre o centrão que controla o congresso nacional, bem como governos estaduais importantes como São Paulo e Rio de Janeiro com o presidente. A crise do governo Bolsonaro exposta de maneira cristalina com a pandemia do coranavírus acentuou as divisões no interior do bloco golpista, o que certamente impediu que a defesa da “ união “ em torno de Bolsonaro, mas fomentou a ampliação do leque de forças e personalidades políticas disponíveis para uma “ frente ampla” contra Bolsonaro.
Somente um cínico poderia afirmar que governos como Joao Dória ( SP), Ronaldo Caiado ( Go) e Wilson Witzel( RJ), responsáveis por ataques permanentes contra o povo, que inclusive foram “ eleitos” no bojo da fraude eleitoral que colocou Bolsonaro na presidência, poderiam representar algo minimamente progressista diante do bolsonarismo. Entretanto, como já foi ressaltado, a crise política e a pandemia do coronavírus levaram aos defensores da “ frente ampla” a propor a ampliação da “frente ampla” não somente para o centro, mas inclusive para a extrema direita, abarcando até mesmo figuras violentamente repressoras como Dória, Caiado e Witzel.
Para não deixar dúvidas da elasticidade da “frente ampla”, a presidenta do PCdoB, Luciana santos afirmou nas redes sociais oficiais do PCdoB e do Movimento65 que “é preciso barrar Bolsonaro com uma frente ampla de salvação nacional”
Isso significa que em nome da “ salvação nacional” para “ barrar Bolsonaro, a presidenta do PCdoB defende que cabe qualquer um, inclusive bolsonaristas “ arrependidos”, na frente amplíssima, por sinal.
Recentemente, o próprio PCdoB articulou a confecção de um manifesto que tinha como principal proposta a renúncia de Bolsonaro, ou seja que até mesmo Bolsonaro, aderisse ao “basta Bolsonaro”. Evidentimente, que nem o PCdoB nem as personalidades e partidos que assinaram o manifesto estão realmente dispostos a lutar pela derrubada de Bolsonaro, a natureza da proposta, deixando para Bolsonaro a iniciativa, é reveladora de quanto inócua é frente ampla.
Com efeito, a política do PCdoB é constituir uma frente ampla pela salvação nacional com aqueles que são co-responsáveis pela destruição nacional. A serventia da proposta é tão somente alimentar a fraude de que figuras como Dória, Caiado e Witzel, Maia, entre muitos outros são ” diferentes” de Bolsonaro.
A constituição da frente com a direita golpista expressa no apoio a eleição de Rodrigo Maia do DEM para presidir a Câmara de Deputados, e agora na proposta de uma frente ampla de “ salvação nacional”, com inimigos dos trabalhadores é parte de uma política de subordinação dos trabalhadores a burguesia, colocando a esquerda completamente a reboque da direita golpista.