Economistas de bancos nacionais e estrangeiros apontam em seus relatórios que o Brasil pode estar à beira de uma crise fiscal com a falta de ação do governo e do Congresso para responder ao risco representado pelo crescimento acelerado da dívida pública.
Segundo o Banco Central, a dívida bruta – olhada de perto pelas agências de classificação de risco como termômetro de capacidade de solvência de um país – fechou agosto em R$ 6,39 trilhões, o equivalente a 88,8% do PIB, renovando recordes mês após mês.
No melhor momento da série, em dezembro de 2013, foi de 51,5%. Agora, números da Instituição Fiscal Independente (IFI) apontam que poderá chegar a 98,6% do PIB no ano que vem e a 100,3% em 2022.
A tensão no mercado aumentou com impasse em torno do financiamento do Renda Cidadã, pensado para substituir o Bolsa Família, mas com alcance e valor médio maiores do que o programa social criado na gestão petista. O sinal vermelho acendeu com o racha no governo sobre a flexibilização do teto de gastos (regra que proíbe que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação) para acomodar entre R$ 20 bilhões e R$ 35 bilhões em novas despesas.
A crise para financiar a atual dívida do governo se somaria aos números já ruins em outros setores, como o aumento do desemprego decorrente da crise provocada pela Covid 19.
A tal “Renda Cidadã” não vai chegar nem perto de solucionar os problemas do povo brasileiro e sequer irá representar um gasto tão significativo para os cofres públicos, algo em torno de R$35 bilhões, o que não é nada perto dos trilhões dados aos banqueiros e capitalistas para conter a crise econômica gerada pela pandemia. Mesmo assim, a burguesia já demonstra sua extrema indisposição para com o programa.
Em editoriais do jornal O Estado de S. Paulo dos últimos dois dias (2 e 3 de outubro), seus articulistas relatam o quanto incomodou a burguesia o projeto da Renda Cidadã. Apesar de eles fazerem críticas a diversos aspectos do governo Bolsonaro, como as queimadas do Pantanal ou o descontrole com a pandemia, fica claro que estas críticas são apenas superficiais. O verdadeiro problema é essa proposta de transferência de renda que, segundo eles, tem uma clara intenção eleitoral e está sendo feita “sem cortes de gastos” e que, aparentemente, se configura como verdadeiro desastre fiscal para o país.
No Estado, chegam ao ponto de criticar o “superministro” Paulo Guedes, no qual botaram tanta fé e esperança, por não se posicionar abertamente contra os programas na solenidade de apresentação deste(!) Ainda fazem elogios aos ministros de Bolsonaro que conseguiram promover menores gastos em suas áreas. A burguesia demonstra, através de um de seus principais veículos de propaganda, que sua oposição com Bolsonaro não é, como acredita a parcela da esquerda que mergulha de cabeça na frente ampla, com a sua “falta de democracia”, mas sim com a sua incapacidade de ser ainda mais nocivo e ainda mais cruel em seus ataques à população.