Banqueiros e representantes do mercado financeiro deixam de negociar suas propostas com o Senado e procuram uma articulação direta com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A conversação com o presidente do Congresso Nacional e atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), parece ser mais lenta, fazendo com que o setor recorresse à Câmara dos Deputados como casa revisora, papel desempenhando, antes, pelo próprio Senado.
O Senado apresenta propostas que contrariam o liberalismo de Paulo Guedes, ministro da Economia e também de Maia, presidente da Câmara – desde o mês de abril, o Senado vem tomando medidas de interferência no plano governamental, como por exemplo, na relação entre aplicativos e prestadores de serviços; quis, também, tabelar juros e movimentar o piso dos depósitos compulsórios dos bancos de maneira a sobrar mais dinheiro para o governo.
Recentemente, empenhou-se para aumentar o salário de servidores, o que foi motivo de críticas para a bancada financeira – para eles, tais medidas apresentam caracteres populista, corporativista e intervencionista. Por isso os bancos passaram a apostar na Câmara dos Deputados para obterem mais benefícios e frearem tais medidas do Senado. Rodrigo Maia já havia declarado em um evento do banco Santander, no mês de agosto, que pautas de cunho intervencionista, não passariam na Casa – “Não tem nenhum país do mundo sério que tabele juros”, disse Maia na conferência. “O resultado da votação do Senado [do projeto de lei 1.166] é o resultado da pressão de muitos brasileiros em relação às taxas de juros do cheque especial e do cartão de crédito. Talvez politicamente fosse melhor falar que dá, mas não dá para tabelar juros. Está errado.”
É nítida a articulação entre banqueiros e a Câmara dos Deputados – Maia, também criticou outro projeto do Senado, que suspendia por quatro meses o pagamento das parcelas de crédito consignado, inclusive para os servidores públicos.
Essa inclinação entre banqueiros e setores do mercado financeiro por Maia não é recente – uma porção dessa simpatia é resultado de sua atuação durante o governo Temer quando negou a proposta de fim à isenção de imposto sobre fundos fechados de investimento como forma de levantar recursos para liberar despesas contingenciadas assegurando o equilíbrio orçamentário na execução de despesas e disponibilidade efetiva de recursos.
Apesar de algumas dificuldades com o Senado, para a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), e alguns banqueiros, que recentemente passaram a manter contato direto também com Davi Alcolumbre, hoje mais aberto a debates com o setor, esse é o melhor cenário político possível. Sendo assim, defendem uma saída jurídica com ministros do STF para uma possível reeleição tanto de Maia quanto de Alcolumbre, ficando claro, mais uma vez, a forma de como o Congresso transita livremente entre setores bancários, mesas de operações e empórios de investimentos atendendo todas as reivindicações da classe.