Segundo a economista-chefe do banco Santander Brasil, Ana Paula Vescovi, uma elevação na taxa básica de juros -a Selic- seria benéfico à economia brasileira neste ano. Atualmente, a Selic encontra-se sem seu menor patamar histórico, 2%. Para Vescovi, longe de travar a economia -pelo aumento do custo do crédito-, encarecer o custo do dinheiro poderá ter efeito contrário, ainda que pareça uma tese extravagante:
“Isso não é uma coisa que eu digo normalmente. Mas a queda dos juros até os 2% acabou sendo contraproducente para a economia. Esse nível de juros, trouxe volatilidade para o dólar e esticou a curva de juros mais longos, o que inibe decisões de investimento. Por incrível que pareça, um aumento dos juros nominais poderá ser mais producente para a economia brasileira, porque vai frear a curva de juros e reduzir a volatilidade no câmbio”, disse a executiva do Santander e ex-secretária do Tesouro no governo de Michel Temer.
Na verdade, isso não é algo que ninguém diga normalmente, e por uma boa razão. A taxa Selic é usada para remunerar capitalistas que investem seu capital em títulos do governo federal, sendo esta a taxa de referência da qual se deriva toda a cadeia de juros praticados no Brasil, a mais alta do mundo. Por exemplo, no mês de janeiro em 5,61% ao mês, o que ao ano, implica em 92,51%, chegando por fim no famigerado cartão de crédito, cujo juro anual atingiu 257% em 2020.
Elevando-se a taxa básica de juros como querem os banqueiros, ainda que no campo da abstração, é muito fácil ver o quanto a população será penalizada caso tal demanda seja atendida. Sequer demanda maiores habilidades matemáticas para perceber a discrepância absurda entre uma economia que desaba algo entre -4% a -5% ao ano, corroída por uma inflação que desvalorizou o poder de compra do dinheiro em 4,52% ao longo de 2020, pelo índice do IPCA e se vê submetida a uma taxa de juro desta natureza.
O investimento, naturalmente fica estrangulado, o que não significa apenas dívidas mais caras mas também mais falências para os elementos mais economicamente frágeis da pequena burguesia, mais desemprego e mais pobreza. E não para aí.
Para remunerar os capitalistas em 2%, conforme a Selic, o governo usa recursos públicos, oriundos de uma economia que vivencia sua mais grave recessão já registrada. Se por um lado, a elevação da taxa de juros implica em uma caos econômico ainda maior, por outro implica também em uma transferência de renda para os grandes capitalistas na casa do trilhão. Um verdadeiro assalto, o que finalmente, é o grande interesse dos bancos.
É preciso lembrar que barbaridades desta natureza são proclamadas e praticadas pela verdadeira ditadura com que a burguesia governa o País, especialmente após o golpe de 2016. Com um horizonte sombrio à vista, às massas nenhuma alternativa resta exceto mobilizar-se pelo fim do regime golpista, o fundamento político que sustenta todos os crimes cometidos pela burguesia contra a população brasileira e a economia nacional.