As grandes mobilizações que sacodem vários países da América Latina, apontam para uma forte tendência revolucionária para toda a região.
O fato de que há centenas de milhares de pessoas nas ruas se enfrentando com a polícia e o Exército de maneira desarmadas, como em todos os países o problema central das mobilizações diz respeito ao problema do poder político, é sintomático o caráter de ruptura com os regimes neoliberais. Em nenhum país o que está determinando a mobilização são questões secundárias. Pode até ser que tenha sido reivindicações secundárias que tenham desencadeado as primeiras manifestações, como foi o caso do aumento da passagem do metrô no Chile, mas rapidamente, no desenvolvimento das mobilizações, ficou evidente o caráter do enfrentamento com os governos.
No Brasil é explícito o medo da burguesia diante da evolução da crise no País. O recuo com relação à reforma Administrativa, por receio de que a revolta dos servidores seja o estopim que contamine outra categorias e a “preocupação” com que setores neoliberais vêem a necessidade de promover políticas públicas para reduzir o grau de miserabilidade que a política econômica está impondo à população são expressões do impasse que atinge o regime golpista.
A absoluta semelhança entre as realidades nacionais que estão levando as massas às ruas, mostra que estamos diante de tendências revolucionárias de caráter generalizado para toda América Latina. O subcontinente se transformou num foco radical e de resistência à política neoliberal. É um processo de características revolucionárias, embora incipientes, por duas questões fundamentais: as populações estão desarmadas e pela ausência de partidos revolucionários à frente das mobilizações.
Embora essas duas situações sejam fatores que permitam uma certa reação por parte das burguesias e manobras por parte da esquerda reformista, os acontecimentos do Chile – com a população se voltando contra a constituinte com Piñera – e da Bolívia – País está sob uma condição de guerra civil – apontam para o grau de radicalização e de consciência que o movimento está adquirindo.
Está claro que a América Latina entrou em uma nova etapa com relação aos processos de golpe de Estados que varreram toda região. As mobilizações colocaram a burguesia golpista e o imperialismo na defensiva. Isso significa que poderia estar aberto uma etapa de colaboração de classes como a que se sucedeu após as grandes mobilizações que varreram a Argentina, Bolívia, Equador, Venezuela, entre outros, diante da revolta popular contra a primeira onda neoliberal ocorrida entre o final do século passado e início deste?
A ideia de que a situação explosiva, de guerra civil, poderia levar ao estabelecimento de uma política de colaboração de classes ao estilo da situação que vigorou por toda a região na primeira década do século, não parece se aplicar.
Uma questão decisiva que ocorre na América Latina, que é uma condição que atinge praticamente a quase totalidade dos regimes políticos da burguesia, é que o aprofundamento da crise capitalista e a ação da burguesia em impor a conta da crise para as massas, está levando à decomposição do regime e ao deslocamento das amplas massas para a esquerda.
A polarização das massas no polo da esquerda provoca a reação da burguesia no outro polo.
Uma situação emblemática é a brasileira. O golpe de Estado e suas consequências e seus ataques as condições de vida fizeram com que as massas iniciassem um deslocamento à esquerda – que não foi tanto mais rápido e forte devido à própria política da esquerda em conter a sua evolução -, o resultado dessa polarização foi próprio processo eleitoral de 2018. A burguesia primeiro garantiu o golpe com a impedindo que Lula participasse das eleições, mesmo assim não foi capaz de garantir o seu próprio candidato e vendo o desmoronamento do centro se agrupou com o candidato da extrema-direita.
É essa contradição que expressa a aguda luta de classes no Brasil e em toda América Latina. A polarização é em sua essência nada mais do que a disputa entre os dois polos. A vitória das massas abre caminho para um desenvolvimento da luta conta o imperialismo. Na outra parte, a vitória do outro polo é a vitória do fascismo e significará o esmagamento das massas e da esquerda.
É de fundamental importância traçar uma uma política definida para atual etapa. A luta na América Latina é a luta pelo poder. O capítulo das pequenas “lutas” da etapa anterior é uma discussão encerrada. As manifestações que fatalmente vão ocorrer no Brasil coloca de imediato a luta pelo poder. Por isso que o Fora Bolsonaro é central. A questão Lula também é central nessa etapa, pois diz respeito a destruição do regime político golpista, com a anulação dos seus processos, com a liquidação da Lava Jato, centro fundamental do golpe. Uma questão que está colocada é a alternativa de novas eleições, com Lula candidato e a defesa de um programa de mobilização em torno da redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais, contra o desemprego, pela anulação das privatizações, pelo cancelamento das concessões, a estatização dos bancos, a reforma agrária, o armamento e a autodefesa dos trabalhadores, enfim um programa que atinja as principais chagas da política nacional e que deve ser sintetizado na palavra de ordem de assembleia nacional constituinte, sem a direita, caso contrário será uma farsa, como no Chile.
Uma solução para o País tem, ainda, de se materializar na luta por um governo dos trabalhadores. Um governo que venha das fábricas, do povo, das favela, dos sem-terra. Um governo que seja controlado pelas organizações dos trabalhadores da cidade e do campo. É fundamental preparar as lutas futuras. As questões chave colocadas acima representam o programa que vai se colocar fatalmente diante do desenvolvimento e do acirramento da luta de classes. Preparar as diretrizes da próxima etapa. dar um caráter mais acabado e consciente à realidade que está se apresentando é a tarefa de todos aqueles que se colocam na perspectiva de derrotar o golpe.