O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rejeitou na noite da última terça-feira (22) o novo pacote de estímulo à economia, no valor de US$900 bilhões, aprovado pelo Congresso americano, após meses bloqueado. Segundo Trump, o plano é uma “vergonha”, o que levou o presidente em final de mandato a pedir um aumento no valor da ajuda governamental dada às famílias americanas para atravessar a crise econômica impulsionada pela pandemia do coronavírus.
Em um vídeo publicado no Twitter, Donald Trump declarou o seguinte:
“Eu peço ao Congresso que altere este projeto de lei e aumente os ridiculamente baixos US$600 para US$2 mil ou US$4 mil dólares por casal. Pedirei ao Congresso que elimine imediatamente os itens inúteis e desnecessários dessa legislação e apenas me envie um projeto de lei adequado”.
“É uma desgraça”, continuou Trump. “Se chama lei de ajuda à Covid, mas não tem praticamente nada a ver com a doença”, completou o mandatário americano, citando ainda trechos do plano aprovado:
“Esse pacote contém US$ 85,5 milhões para assistência ao Camboja, US$ 1,3 bilhão para o Egito e ao corpo militar do Egito, que vai comprar equipamento militar russo, US$ 25 milhões para a democracia e programas de gênero no Paquistão, US$ 505 milhões para Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá.”
No vídeo, Trump indica que não assinará o documento sem as mudanças solicitadas, como o aumento no valor do auxílio assistencial. Sem tais mudanças, o atual presidente diz que o pacote possivelmente será aprovado apenas no próximo mandato, e acrescentou: “talvez eu esteja na próxima administração”.
Esmola
O pacote aprovado pelo Congresso, com apoio de democratas e republicanos, é parecido, em muitos aspectos, com o auxílio emergencial do regime golpista brasileiro. Ambos não passam de uma esmola diante do volume de recursos de que dispõe os respectivos países, o que no caso da nação mais rica do mundo, é até pior.
A esmola, lá como cá, cumpre ainda um papel político, no sentido de buscar acalmar a população e evitar uma revolta que escape ao controle da burguesia americana. Tal qual no Brasil, a situação política nos Estados Unidos é cada vez mais explosiva, resultado das múltiplas tensões que frequentemente levam o país imperialista a ser sacudido por revoltas extremamente violentas, como as diversas mobilizações ocorridas este ano demonstram.
Camarada Trump?
É preciso ter claro que Donald Trump está longe de ter se convertido em um líder popular. Sua disposição em enfrentar o conjunto da burguesia americana, longe do que sua bravata demagógica aparenta, diminuiu nas últimas semanas.
O aumento do auxílio governamental, dado às famílias em situação de penúria devido à crise econômica, não foi parte de sua política durante os últimos meses e nada indica que o regime de interesses que pautam o governo Trump tenham mudado substancialmente.
Contudo, sem sombra de dúvida, a situação mostrou-se perfeita para tentar forçar uma situação no interior do regime americano, com Donald Trump capitalizando o descrédito dos americanos com a futura administração democrata, ainda que pela via da demagogia.
Ao mesmo tempo, o ataque aos valores destinados pelo pacote já coloca Biden e seus adversários em uma sinuca de bico, com o atual presidente afirmando que só aprovará um auxílio maior às famílias do que o proposto pela burguesia. Esta ação já coloca o próximo governo sob intensa pressão para ceder migalhas maiores do orçamento público às famílias trabalhadoras dos EUA.
Unidos, contra o povo americano
Pressionado, o presidente eleito, Joe Biden, declarou nesta terça-feira que os US$900 bilhões eram um “primeiro passo”, reconhecendo que o valor da ajuda governamental não era suficiente para atender as necessidades da classe trabalhadora americana, anunciando ainda que pediria ao Congresso para votar, em 2021, um novo plano de ajuda à economia americana, tendo contudo, o cuidado de não detalhar os valores do auxílio.
“Devemos trabalhar envolvendo as duas partes (republicanos e democratas). Somente assim conseguiremos sair dessa situação”, afirmou Biden.
É preciso destacar que o trabalho “envolvendo as duas partes” vem se arrastando há meses, conforme destacado pela imprensa porém só agora o Congresso americano aprovou o pacote de ajuda contra os efeitos do coronavírus na economia, após as eleições e próximo da data provável em que Biden assumirá a Casa Branca -isto, naturalmente, caso nenhuma crise ainda maior se desenvolva-.
De qualquer modo, a exposição do caráter demagógico do plano econômico para enfrentamento da pandemia feito por Trump, já coloca a burguesia americana sob mais pressão do que já tem atualmente.
Com mais de 18,2 milhões de infectados e um total superior a 323 mil mortes, segundo as estatísticas oficiais, o que não falta à burguesia imperialista dos Estados Unidos, neste momento, é pressão. A tentativa de contornar a gigantesca crise em que o país mais poderoso do mundo está mergulhado, parece esbarrar em um doido disposto a bagunçar o coreto. Para os povos oprimidos da humanidade, inclusive dos EUA, isso é ótimo.