A transmissão televisiva do futebol brasileiro ganha novos contornos. A Rede Globo, praticamente dona do futebol brasileiro, tem seu império em sério de risco de extinção. A Medida Provisória 984, assinada pelo presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, dá permissão para os clubes negociarem unilateralmente os direitos das suas partidas como mandante. Isto fez com que clubes que não assinaram com a Globo para transmissão, em televisão fechada, das suas partidas, poderão transmiti-las, mesmo que o clube visitante tenha assinado com a emissora carioca.
A Globo, em resposta, já notificou a Turner – que tem contrato com vários clubes – que entrará na justiça contra esta caso esta transmita os jogos aos quais a Globo têm contrato com o time visitante. Tem-se aí uma disputa entre duas alas da burguesia. De um lado, a imprensa oficial do golpe de 2016 e da ditadura militar, de outro, uma das maiores empresas capitalistas do mundo.
É mais do que sabido que a MP 984 é juridicamente um absurdo, algo típico do governo fascista vigente, entretanto, isto é um mero detalhe, de relevância política menor. A relevância política maior está em observar como o judiciário burguês se colocará. Se ficar do lado da Globo, ocorrerá a manutenção do monopólio. Entretanto, se der ganho aos interesses dos concorrentes da Globo, haverá um fato novo.
Mesmo que a Globo perca a luta, não é de se esperar que as coisas mudem magicamente, como da água pro vinho. O que provavelmente acontecerá é que o monopólio tende a se transformar em um oligopólio, um acordo da Globo com as demais partes. Isto é algo comum no capitalismo. Quando um monopólio entra em crise, ele se transforma, pela aglutinação de setores da burguesia, em um monopólio ainda mais forte e violento.
Outro ponto importante a se observar é o destino da própria MP 984. A disputa política na câmara dos deputados e no senado também colocará em xeque o poder político da Globo. A aprovação da MP, deixará claro a todos que a Globo não possui a mesma articulação política e que está em franco declínio. Todavia, isto é pouco provável, já que a Globo ainda possui grande capilaridade, especialmente nas regiões menos desenvolvidas do país. Este fator tende a ser dominante em votações desse naipe.
O que tem-se em jogo nesta situação toda não é simplesmente a mudança do regime econômico do futebol, pois este ainda estará submisso ao parasita capitalismo. Porém, pode modificar completamente a maneira como os acordos são negociados.
Seria completamente pueril acreditar que o império da golpista Globo simplesmente irá desaparecer do dia para a noite. Pelo contrário, ele tende a sobreviver, ou mais fraco ou bastante transformado, muito por ainda ter uma estrutura muito maior que os demais. Não pode-se esquecer que a Globo ainda é a única fonte de “informação” para a imensa maioria do interior do Brasil, além de ser fortemente vinculada às oligarquias destes locais.
O futebol, apesar de não ser diretamente tão lucrativo à emissora, carrega o fato de ser o maior símbolo da cultura nacional. Controlar o futebol brasileiro é, em grande medida, ter controle sobre a cultura do país. Por isso a importância de observar atentamente esta briga pelos direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro.
Pelos argumentos apresentados, o contexto leva a crer que, independente do resultado final, os clubes continuarão, em boa medida, submissos aos capitalistas, podendo mudar apenas o “patrão”. E isto é natural, pois os clubes de maior expressão tornaram-se empresas e, como empresas, estão presos às contradições do sistema capitalista. O fato de terem menos recursos financeiros os deixa a reboque dos monopólios, apesar de um ou outro clube, ensaiar alguma “rebeldia” de vez em quando.
A única forma de que os clubes possam ter total independência é através de uma mudança drástica na organização interna dos próprios clubes. É necessário que os clubes sejam tomados pelos torcedores, excluindo os cartolas burgueses e pequeno burgueses que utilizam os clubes como ferramenta para interesses pessoais. A partir dessa luta nos clubes, onde estes voltarão a ser do povo e não de uma meia dúzia, o futebol poderá se livrar dos monopólios sanguessugas.