Matéria da revista Carta Capital, assinada por Victor Ohana, intitulada “Novos atos têm o desafio de atrair mais trabalhadores não organizados e setores de centro”, defende que no próximo ato, marcado para o dia 24 de julho, organizações que não necessariamente da esquerda participem.
Essa é a política de um setor da esquerda pequeno-burguesa, em particular, daquela que defende a frente ampla, ou seja, colocar o movimento a reboque da direita golpista tradicional.
Mas a ideia de que setores de “centro” – que nada mais é do que essa direita – estejam presentes nos atos não é da esquerda. Tal ideia tem origem na própria direita. Basta uma olhada pelos jornais da imprensa golpista. Ali, uma série de artigos procura convencer que as manifestações não podem ser somente da esquerda, que se deve “largar o vermelho e levar o verde e amarelo” nas ruas.
Esse é o Cavalo de Troia que a burguesia quer infiltrar nas manifestações para controlá-las de dentro. A burguesia já percebeu que não conseguirá frear a mobilizações que colocam em risco não apenas Bolsonaro, mas todo o regime golpista.
Para isso, a direita conta com seus aliados da frente ampla. Segundo o artigo da Carta Capital, o principal defensor dessa política é a CTB, “central” dirigida pelo PCdoB.
“Nivaldo Santana, da Central dos Trabalhadores do Brasil, diz que um passo importante para ‘jogar água no moinho da oposição’ é estender o diálogo a movimentos que não são tão familiarizados com atividades de rua, como o Direitos Já – Fórum pela Democracia e associações de intelectuais, juristas, artistas e personalidades democráticas”, diz.
Esses “movimentos não familiarizados com atividades de rua” são assim justamente porque são organizações impopulares e que por isso mesmo não fazem nenhuma diferença na mobilização. O Direitos Já, por exemplo, é um movimento articulado pelo PSDB, com a participação de políticos burgueses golpistas e do qual participam também elementos direitistas da esquerda da frente ampla, como Flávio Dino (PCdoB, agora PSB), Manuela D’Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL), Fernando Haddad (PT) e Marcelo Freixo (PSOL, agora PSB). Com exceção dessa cobertura pseudo esquerdista dada por esses nomes, essa frente é composta pela pior escória da política nacional como FHC, José Serra, Rodrigo Maia e outros, além de capitalistas e jornalistas da imprensa golpista.
Se o movimento de luta que está nas ruas dependesse desses elementos para derrubar Bolsonaro e conseguir qualquer uma das reivindicações que estão sendo levadas pelos manifestantes, seria melhor que todos voltassem para casa porque a derrota estaria garantida. E é a derrota da mobilização a única consequência da presença desses elementos nas manifestações.
Não se trata apenas de que nenhum desses políticos tem apoio popular e, portanto, não tem condições de contribuir com o aumento da mobilização. O mais importante é que nenhum deles, nenhum político do chamado “centro” está interessado na vitória do movimento. Pelo contrário, eles são totalmente contra todas as reivindicações que os manifestantes levam para as ruas, da vacinação e combate à pandemia até a luta contra a privatização, passando pelo auxílio emergencial.
Os defensores da infiltração desses direitistas nas manifestações dizem que, apesar de tudo, o que uniria a esquerda a eles seria a oposição a Bolsonaro. E está aí a maior das enganações. A direita tradicional já mostrou que sua oposição a Bolsonaro está condicionada a: 1) Procura por uma alternativa neoliberal para 2022; 2) O apoio a todas as políticas bolsonaristas de ataques aos direitos do povo. Daí se conclui que essa direita não quer derrubar Bolsonaro, mas usar o movimento da esquerda para eleger um candidato neoliberal e ultradireitista em 2022 e se não encontrá-lo, eles vão de Bolsonaro novamente, como foram em 2018.
Ainda segundo o artigo de Carta Capital, o diretor da CTB afirmou ainda que “Para nós conseguirmos o impeachment, temos que ter maioria no Congresso. Só os movimentos ligados à esquerda são insuficientes para viabilizar essa proposta. Para conquistarmos maioria social, temos que ter a esquerda unida e a convicção de que movimentos não necessariamente de esquerda possam participar.”
Eis outra armadilha que a direita está jogando para o movimento. As mobilizações não são pelo impeachment, mas pela derrubada de Bolsonaro pela força popular. O próprio impeachment só faz sentido se for o resultado dessa força. As ruas estão pedindo a queda do governo e do regime golpista todo, ou seja, de toda a política criminosa que a direita – bolsonarista ou “civilizada – impôs ao povo após o golpe.
Canalizar a mobilização para o parlamento, dominado pelos bolsonaristas e pela direita, é abrir as portas para a derrota. Os picaretas de todos os partidos do Congresso Nacional já mostraram que não estão dispostos a derrubar Bolsonaro.
Para não cair nessas armadilhas, as mobilizações devem evoluir cada vez mais à esquerda, diferente do que quer a frente ampla. Por isso, a direita não quer que Lula participe do movimento, pois isso impossibilitaria de uma vez por todas que ela controlasse o movimento.
É preciso aumentar a mobilização com as reivindicações populares. O povo saiu às ruas porque defende essas pautas, que são da esquerda e portanto são contra todos os golpistas responsáveis pela desgraça que assola o País.